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              AMADA

 

          A americana Toni Morrison foi a primeira escritora negra a ganhar um Nobel de Literatura em 1993. Ela havia iniciado como romancista, em 1970, com o livro O Olho Mais Azul, e Amada, ganhador do Prêmio Pulitzer, é seu romance mais conhecido e talvez o mais importante.

       Morrison foi editora durante muitos anos e quando perdeu o último emprego, decidiu que estava na hora de se tornar escritora em tempo integral. Ela conta no prefácio de Amada que se lembrou então de ter lido a história de uma escrava fugitiva, na época da escravidão nos Estados Unidos. Essa escrava matou um dos filhos e tentou matar os outros para que eles não fossem devolvidos aos seus antigos donos. Esse foi o ponto de partida para Toni Morrison escrever o romance, mas é claro que, como romancista, ela foi muito além.

         A história de Amada se passa em 1873 nos Estados Unidos, logo após o fim da escravidão, que havia acontecido apenas dez anos antes, sob as ordens do presidente Abraham Lincoln. O livro conta a história de Sethe, uma ex-escrava que havia fugido de uma fazenda chamada “Doce Lar” no estado de Kentucky, refugiando-se em Cincinatti, no estado de Ohio, onde a maior parte da população era abolicionista. Os escravos eram ajudados a chegar no estado, atravessando o Rio Ohio, que foi exatamente o percurso que a personagem do livro fez.

        A história começa com Sethe e sua filha, Denver, morando sozinhas numa casa afastada nos arredores da cidade. A casa, conhecida apenas pelo número 124, tem características humanas. O romance se inicia dizendo que “o 124 era rancoroso. Cheio de um veneno de bebê”. Na verdade, o que há na casa é um fantasma com o qual elas convivem há anos. Ele faz barulhos e quebra coisas, mas não há o que fazer a respeito. As duas convivem com o fantasma que elas acreditam ser de uma outra filha de Sethe que morreu quando ainda era um bebê, até o dia em que chega na casa, Paul D, também um ex-escravo e um amigo de Sethe da época em que ela e o marido moravam na fazenda Doce Lar. Assim que Paul D chega, ele presencia uma manifestação do fantasma, mas, ao contrário das mulheres, ele o enfrenta, joga coisas nele, grita com ele e o fantasma vai embora. Mas, no outro dia, surge na casa uma moça estranha que ninguém sabe quem é ou de onde veio. A partir daí a história se desenrola.

          É um livro que tem uma narrativa difícil no início porque não há uma linearidade, um fato depois outro fato. A narradora conta algo, pensa algo, lembra algo, tudo isso de forma misturada. A própria Morrison explica, ainda no prefácio, que não haveria nenhuma introdução, “que ela queria que o leitor fosse sequestrado e jogado num ambiente estranho como primeiro espaço para uma experiência comum com a população do livro.” O que ela chama de população do livro são os personagens, então ela não se detém a descrevê-los, a explicá-los. Nós, como leitores, vamos entendendo aos poucos.

        À medida que vamos compreendendo, a história vai nos envolvendo, então é preciso ter paciência para ultrapassar essa fase inicial, já que Toni Morrison tem essa prosa enigmática. Amada não é um livro premiado à toa. Apesar de existirem muitos livros com histórias sobre a escravidão, Amada faz com que pensemos sob a perspectiva de um escravo fugitivo disposto a tudo para não voltar à escravidão e, principalmente, nos faz pensar o que faríamos se estivéssemos no lugar de Sethe, se teríamos sua mesma coragem.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=UlShO9SK2Sc

 

FICHA TÉCNICA

Título Original – Beloved

Edição Original – 1987

Edição utilizada nessa resenha – 2018

Editora Companhia da Letras – São Paulo

Número de páginas – 364

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