Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
FÉRIAS
Estou de férias. É muito esquisito férias na pandemia. Não saio de casa e o trabalho home office vira só home. Já fiz de tudo. Rearrumei armários, pintei paredes, escaneei fotos, plantei, liguei para todos os amigos que estão trabalhando e não têm tempo para conversar comigo, vi séries e...e o tempo não passa.
Os familiares me perguntam: por que você não lê um livro? Ora, eu não preciso estar de férias para ler um livro. Leio ininterruptamente desde que aprendi a ler aos cinco anos de idade. Vou passar o dia inteiro lendo?
Então por que você não escreve? Eu escrevo. Tanto faz nas férias ou durante o trabalho.
Então cozinhe, invente doces. Só pra engordar?
Chata? Um pouco.
Feriar para mim é sinônimo de descobrir, aventurar, conhecer museus, parques, ir a shows, a bares com música ao vivo, almoçar ou jantar com amigos, sair de casa sem medo. Feriar é sair da rotina e não fazer exatamente a mesma coisa que eu já vinha fazendo há mais de um ano: ficar em casa.
De verdade, eu queria mesmo era viajar. Viajar literalmente para um lugar bem longe, diferente, e também viajar no tempo, antes do dia em que aquele morcego maldito resolveu sair pra passear e espalhou a covid.
Fico imaginando um morcego, muito quieto lá no seu canto e alguma coisa completamente fora do comum, talvez um desmatamento, uma poluição, um incêndio, algo que fez com que ele tivesse de interromper seu soninho do meio-dia para desbravar novas paisagens. Se o bichinho ficou bravo? Claro que sim. E só pra se vingar resolveu criar uma “pequena” pandemia.
Quanto a ficar em casa, mesmo nas férias, tenho até um pouco de vergonha de reclamar. Sou uma privilegiada. Moro em uma casa grande, com jardim, sol, e com muitas possibilidades de me ocupar. Mas o tédio bate e a vergonha dura pouco. Se um dia eu pegar aquele morcego...
São Paulo, 25/05/2021