Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
POR TRÁS DE UM POST
Entrei tardiamente no facebook. Resisti o mais que pude. Por quê? Porque não gosto de expor minha vida particular, mas, com o tempo, entendi que não preciso. Posso falar de outros assuntos e não postar onde estou, o que como, com quem durmo, etc e tal. Sim. De vez em quando vejo postagens que tenho de ler duas vezes porque não acredito no que estou vendo.
Por outro lado, tenho de admitir que foi ótimo reencontrar pessoas queridas e há muito perdidas em alguma curva da estrada. Entretanto, o que mais me surpreendeu e continua me surpreendendo é como algumas pessoas são tão diferentes da imagem que eu tinha delas. Descobri reacionários, preconceituosos, negacionistas, em pessoas que eu jamais imaginaria. Não estou aqui para julgar ninguém. Não é esse o tema da crônica. O que me intriga é o que leva alguém a ser de uma maneira em uma festa, em uma conversa na empresa, em uma mesa de bar, ou seja, presencialmente, e esse comportamento ser completamente alterado no mundo virtual.
Vamos a pergunta que não quer calar: qual comportamento demonstra o verdadeiro eu? O presencial ou o virtual? Cheguei à conclusão que é o virtual.
Em uma conversa presencial, somos rebatidos na hora se a nossa ideia for estapafúrdia ou antiética. As pessoas nos olham com cara de espanto, de reprovação. Não dá para fingir que não viu. Nossa reação imediata é perceber que pisou na bola e tentar remediar o que foi dito. Além disso, é preciso sustentar o argumento, o que nem todo mundo consegue. Assim, muda-se de assunto e vida que segue.
Na solidão da postagem, as pessoas podem se revelar. E se alguém a contestar, o expediente tem sido simplesmente bloquear quem não concorda com o post. Entretanto, não dá para bloquear alguém em uma festa, ou seu colega de trabalho no dia a dia da empresa. Todo mundo tende a ser mais contido no “mundo real”.
Aprendi muito sobre as pessoas com o Facebook. E como cronista, sempre agradeço por tantas ideias que, espremendo um pouco, valem um texto. Graças a Deus as más surpresas são poucas, porém, a decepção não pode ser ignorada. O lado negro da força nunca tem graça. Ainda sou das antigas, prefiro um sabre azul!
São Paulo, 16/02/2021