TAQUI O QUÊ??
- O que é isso? – o menino perguntou curioso, mostrando um caderno que tinha achado em uma caixa de coisas velhas jogada na garagem.
A avó, surpresa que aquilo ainda existisse, respondeu sorrindo:
- Taquigrafia.
- Taqui o quê??
- Ta-qui-gra-fi-a – a avó respondeu pausadamente, talvez acreditando que pelo fato de separar sílabas tivesse deixado alguma coisa mais clara.
O neto continuou olhando para ela esperando pela explicação. E então ela se deu conta de como era antiga. Não conseguia nem explicar o que era taquigrafia. Pensou um pouco, mais um pouco e elaborou uma resposta ou algo parecido com isso.
- Sabe aquele filme que a gente viu outro dia em que um índio conversava com outro índio de outra tribo usando um tambor? Então, taquigrafia é quase como uma língua de tambor.
- Tambor não tem língua, vó. E um caderno não é um tambor.- o garoto respondeu usando toda sua lógica infantil.
O neto estava certo. O pior é que ela era professora e devia saber ensinar uma coisa tão simples. Era preciso começar de novo.
- Tá. Então eu vou explicar diferente. Taquigrafia é um tipo de código. Era uma maneira que existia antigamente das pessoas escreverem mais rápido.
O menino olhava aquele monte de bolinhas, curvinhas e pauzinhos desenhados no caderno e continuava sem entender.
- E pra quê as pessoas queriam escrever mais rápido?
- Porque alguém estava falando e outra pessoa ia escrevendo tudo o que a pessoa falava. Se ela não escrevesse rápido, iria perder alguma palavra que tinha sido dita. Entendeu?
- Não entendi. Por que ela não gravava o que a pessoa estava dizendo?
- É que naquela época não existia gravador.- a avó respondeu.
- Como assim não existia gravador? – o garoto estranhou.
Como explicar para alguém de apenas oito anos e que tem um gravador até no seu telefone que isso um dia não existia? Ou de como aprendemos coisas antigamente que hoje são completamente inúteis como taquigrafia? Aulas e mais aulas decorando o símbolo de cada sílaba para depois não usar pra nada e esquecer tudo.
- Ih! Tanta coisa não existia antigamente. É como o brinquedo novo que você ganhou no seu aniversário. Ele simplesmente não existia no seu aniversário do ano passado, não é?
- Ah. Entendi. Taquigrafia é um jogo que ficou chato e ninguém joga mais. – o neto completou sorrindo.
A avó sorriu também. Ele tinha razão. Seu caderno de taquigrafia era um jogo que ficou chato, tão chato que desapareceu do mundo. Mais alguns anos e sua garagem poderia ser escavada por arqueólogos.
São Paulo, 04/12/2018