Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
A CAMINHO DE SERMOS
HUMANOS
Compro naquela rede famosa de supermercado francês desde que eu era adolescente e eles abriram a primeira loja em São Paulo, em 1975. Tem quase 50 anos. Eu, como muitos brasileiros, demos muito lucro a tal rede, transformando seus negócios no Brasil, em sua segunda maior fonte de renda, perdendo apenas para a própria França.
Enquanto somos um mercado de carneirinhos, só dando lucro, sem pedir nada em troca, as relações foram às mil maravilhas, mas tudo começou a mudar quando o Mercosul quis fechar um acordo com a União Europeia e os produtores franceses se sentiram ameaçados. Ora, o mundo é globalizado há muito tempo e ganha quem produz mais e melhor, a um custo mais baixo. Simples assim! Inúmeras indústrias nossas fecharam com a enxurrada de produtos, primeiro americanos e depois chineses. Não vi nenhum grande empresário brasileiro, do mesmo peso da Rede Francesa, anunciando boicote.
É o mesmo caso dos Estados Unidos. Exploram até não poder mais países subdesenvolvidos como o Brasil, e agora, seu presidente reeleito diz que vai ser nacionalista e taxar fortemente as mercadorias estrangeiras. Precisa estar gagá demais ou desinformado demais para não perceber que o movimento de globalização é irreversível, principalmente, depois da internet e das redes sociais.
Cada vez mais o conceito de humanidade se sobrepõe ao de nacional e isso é ótimo, por mais que míopes não enxerguem. É inacreditável que em pleno século XXI, pessoas morram de fome e frio, enquanto o homem mais rico do mundo brinca de mandar foguetes e faz de tudo para obter mais e mais poder. Quanta comida, quanto remédio poderia ter sido comprado com aquele foguetinho? Bilionários deveriam ser obrigados a pagar impostos estratosféricos. Tenho verdadeira ojeriza quando vejo um “influencer” ou qualquer famoso postando um carro ou uma bolsa de milhares ou milhões de reais. Precisa ser muito inseguro para gastar tanto com algo tão fútil, só para aparecer.
E o povo também precisa ser completamente ignorante para achar que um bilionário não explorou alguém para obter tanto lucro ou então, herdou de seus antepassados que, por sua vez, obviamente também exploraram pessoas. Se tudo fosse dividido igualmente, se capital e trabalho tivessem o mesmo valor, não existiriam bilionários e nem miseráveis.
É bom ser paulista, claro que é, mas é muito bacana ser brasileiro e maravilhoso ser humano. É assim que as pessoas deveriam pensar. Toda vez que o mundo avança para ser simplesmente humano, há um movimento retrógrado de governantes e suas massas de manobra que querem construir muros, serem nacionalistas, ocuparem outros países, dominar, dominar. Entretanto, mesmo que tenhamos de dar dois passos pra frente e um pra trás, aviso aos caminhantes que só haverá esse planeta nos próximos séculos se todos caminharem na mesma direção. É essa certeza que apazigua meu coração.
SP 26/11/2024