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CRÔNICA DA SEMANA

GIRATA

          Sumi. Desapareci.

          Embarquei na grande nuvem aerada e cruzei os mares. Sem vozes.

          Posso, enfim, ouvir meu sorriso, há tanto tempo calado.

          Sinto a alma aquecendo a mais de cem graus.

          Criança pequena rasgando papel de presente.

          Quando despenco da nuvem, São Jorge me aguarda.

        Ele me guia. Sonho concreto de arabescos e chapéus de fada tocando os olhos, que se arregalam pequenos.

        Inesperado, o branco cai do céu e mostra o caminho incerto e, por isso, belo.

     Minhas mãos descobrindo o novo, o antigo, o eterno. Na reminiscência dos impérios.

         Os dedos sentindo o calo dos blocos de pedra, ouvindo as correntes, o choro das mães.

          Voar entre montanhas, ao amanhecer, é o prêmio de uma vida. Que pena que tão poucos são premiados com este presente!

        Atravesso quilômetros para ver águas azuis que se evaporam sem aviso. É triste, quase divino em seu final, uma morte em branco e seco.

        Mas muitos autofalantes de oração lembram que há mais do que o chão.

         Tapetes de tulipa se estendendo em arco-íris, saudando a vida.

        Haréns abandonados, recordando o amor que se foi para longe e para perto.

         Reis que se tornam homens.

         Tudo com gosto de romã.

          Não mudei como Orlando, mas como mudei!

          É também para isso que vivo.  Para viver o não vivido.

          Para voltar outra.

 

SP 29/04/2025

         

         

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