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CRÔNICA DA SEMANA

BORBOLETAS DE VERÃO

          Todo ano é a mesma coisa. Eles chegam em outubro com suas roupas estalando de novas.  Nos pés, os tênis mais modernos e mais coloridos. Falam alto, vêm em dupla, às vezes, até em trio, e mais conversam do que qualquer outra coisa. É um grupo ruidoso e feliz. Têm certeza que estão fazendo o melhor, ou pelo menos, acham que estão. Parecem acreditar piamente que o pouco esforço vale a pena e que vai fazer grande diferença, afinal o biquíni, a sunga, os shorts, as pernas e as barrigas de fora os esperam ansiosos.

             Parecem borboletas de verão.

            Eu os olho com carinho. Apesar de adultos, lembram adolescentes despreocupados, ou melhor, preocupados apenas com o imediato. Ninguém lhes conta que, a dois meses do verão, os exercícios não vão fazer nem cócegas em suas formas físicas. Podem se matar de correr na esteira, levantar o máximo de peso que conseguirem (e sempre é pouco peso porque são sedentários), mesmo assim os resultados não vão aparecer.

          É gostoso observá-los, mesmo sabendo que toda essa animação, quando muito, vai até o carnaval, e acaba na quarta-feira de cinzas junto com o último bloco. Simplesmente desaparecem da academia. Só fica o pessoal de sempre.

        Li em algum lugar que o que difere o artista, o atleta ou o empresário de sucesso é apenas a persistência. A persistência de continuar fazendo, continuar aprendendo, continuar melhorando. A persistência, muitas vezes, é mais importante do que o talento. Cada vez acredito mais nisso. Cansei de ver talentos desperdiçados porque não houve dedicação em aprimorá-los.

          A academia não é um parque de diversão. Pode não parecer, mas é lugar de trabalho, trabalho físico, trabalho duro. Musculação é algo que exige constância, os resultados são demorados e sim, dá muita preguiça. No inverno então, só muita determinação e vontade para encarar o frio pra sair de casa e fazer exercício.

         Enquanto reflito, uma borboleta de verão, sentada ao meu lado, em um aparelho igual, me pergunta em quanto tempo eu consegui levantar tanto peso na perna. Eu respondo nove anos e ela olha para mim incrédula.

        -Então eu acho que nunca vou levantar tanto peso. – ela afirma sincera.

          Eu sorrio, ela também e nada mudou. Enquanto eu me preocupo em manter a minha mobilidade para o futuro próximo, ela pensa no biquíni cavado do verão. Cada coisa a seu tempo.

SP 14/10/2025

         

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