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QUASE NÁUFRAGA

           Olha que eu nadei e nadei e nadei.

        Tinha vezes, apenas com o céu na cabeça e o mundo de água em volta, que eu pensei em desistir. Era muita água e eu não sou boa nadadora nem em águas calmas, quanto mais em águas revoltas. Mas também não sou boa em desistir.

        Perdi a conta de quantas vezes submergi e, quando tudo parecia escuro demais, subi à tona. Renovar as esperanças para perdê-las poucos metros depois, na próxima onda que me derrubava e me jogava no profundo. Bebi mais água do que eu imaginei possível, água salgada, água amarga, água morta.

          Por vezes, me abandonei à correnteza. Deixei que ela me levasse para lá e para cá, no desejo tolo de que ela fosse mais sábia do que eu, e me levasse a você. Bobagem! Rodei no redemoinho, sozinha, e sozinha tive que aprender a sair dele. Quanto mais ele me sugava, mais eu me debatia, mais força surgia de sei lá onde para resistir.

          Foi tanto tempo nadando que eu nem sei contar. Foi tanta energia que eu nem sei onde foi parar.

          Penso que, às vezes, seria capaz de me afogar em uma poça d’água, mas, por você, atravessei o oceano. Sem um salva vida ou uma boia, ou pelo menos uma bússola para me dar um norte.

         Olha que eu nadei, e nadei e nadei.

         Morri na praia.

SP 18/04/23

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