Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
UM BRILHOZINHO
Também queria um conjuntinho assim, bem simples, só um colar, um par de brincos, um relógio cravejado de brilhantes e um anel. Infelizmente, não tenho nenhum amigo saudita e também não tenho poder nenhum para favorecer qualquer tipo de negociata.
Pensando melhor, mesmo que tivesse uma joia dessas, não teria onde usar. Talvez em algum baile à fantasia, para o qual eu iria, claro, fantasiada de rainha. Sempre penso que rainhas e reis deveriam simplesmente desaparecer e entrar para os livros de história. Onde já se viu, alguém ter tanto poder, tanto dinheiro, simplesmente porque nasceu em uma família que, provavelmente, tem um passado bem pouco apresentável para conquistar um trono? Em pleno século XXI, como as pessoas ainda apoiam essa bizarrice chamada monarquia? Se tivesse poder, acabaria com isso, venderia as tais joias da realeza e mandaria todo mundo trabalhar como qualquer mortal.
Monarquia e joias exorbitantes são uma ofensa aos bilhões de seres normais. É estranho imaginar que umas pedras encontradas na natureza possam valer tanto dinheiro. Dezesseis milhões, um prêmio de megasena que daria para construir inúmeras casas populares ou então, ir para um museu como peça rara e, no futuro, daqui a séculos, as pessoas se surpreenderiam ao saber como se gastava tanto por algo tão supérfluo, um enfeite.
A ex-primeira-dama não tem muito estudo, não tem poder, não tem experiência política, não tem sequer dinheiro ganho com o suor do seu rosto. Há anos que não trabalha, desde que foi exonerada do gabinete do marido a bem do serviço público. Como será que passou pela cabeça do ilustre casal que ela tinha direito a uma joia dessas que a lei diz claramente que tem de ser do estado e não das pessoas que ocupam a cadeira naquele momento? Ah, já sei!! Lembra de uma vez que o marido falou que ela era uma princesa?
Presente, propina ou apenas uma maneira de esquentar dinheiro, não importa. Sob qualquer aspecto é ilegal e ponto. Em um país onde mais de trinta milhões de pessoas passam fome, esse episódio é uma afronta. Dar risada e dizer que não sabia de nada é, no mínimo, um ultraje à nossa inteligência.
Ouço dizer que o tal conjunto estará em todas as lojas de "biju" da Rua Vinte e Cinco de Março no próximo carnaval. Vou comprar e mandar de presente para a princesa. Afinal, ela perdeu o mimo, e o que esperar da vida sem um brilhozinho?
São Paulo, 07/03/2023