top of page

POR TRÁS DA CRÔNICA

        O ano tem 52 semanas, o que significa que anualmente escrevo, no mínimo, 52 crônicas. Claro que escrevo mais do que isso, mas não publico porque falar bobagem já é triste, publicar é passar um atestado de burrice. E você, leitor, nem imagina o tanto de bobagem que passa pela minha cabeça e que eu jogo nessa tela em branco na expectativa de ver no que vai dar.

      A crônica funciona como um desabafo da alma. Desabafo que pode ser sobre qualquer coisa. Algo que me incomoda, que me chama a atenção, que me encanta... Depois de décadas escrevendo crônicas, o olhar ficar treinado para ver o nada que passa despercebido a tanta gente. Escrevo sobre o nada porque aquilo que chamamos de nada tem importância e nos toca em nosso dia a dia. O problema é que a grande maioria nem percebe. E se irrita, se entristece, se alegra, muitas vezes sem perceber a origem desses sentimentos.

       Quando publico meu desabafo, o faço na esperança de despertar o seu olhar. Quero que você também veja o que eu vi, também sinta o que eu senti. E, se você já passou por uma situação parecida ou ainda vai passar, vai ter a certeza de que não está sozinho. Aliás, literatura, como eu sempre digo, é para criar empatia. Vamos nos colocando no lugar do outro. Às vezes, um outro tão diverso, um personagem que por alguma razão identificamos com algum parente, algum amigo e que a literatura nos ajudar a compreender.

       Conviver é viver com alguém. Não necessariamente um amor, mas um vizinho implicante, um colega de trabalho ranzinza, o entregador daquela mercadoria atrasada, um amigo querido que fica sentido com a sua falta de atenção. Conviver é difícil. A crônica, misto de espelho e caleidoscópio, é uma tentativa de lhe dizer isso, ou, pretensiosamente, lhe preparar para isso.

         O telefone toca. O chefe lhe chama. Seu filho reclama. Sua irmã lhe cumprimenta. Vida de pequenas coisas, de acontecimentos corriqueiros, de sentimentos pequeninos que lutam para permanecer ao lado dos grandes em seu coração.

         E uma cronista tola que se emociona para lhe dizer tudo isso.

 

SP 14/02/2023

bottom of page