top of page

TRISTEZA

              Vejo as pessoas cabisbaixas andando pelas ruas e me pergunto: onde foi parar aquela famosa alegria do brasileiro? Quando foi que nos tornamos um povo triste e eu nem percebi?

            Estamos todos mais raivosos, bravos com nem sei o quê. É como se houvesse uma grande luta surda que nos machuca diariamente.

            Alguns culpam a pobreza, outros, a disputa política, eu só consigo pensar em decepção e desesperança. Causa e efeito?

          Diariamente, meus personagens me obedecem cegamente. Se quero que fiquem felizes, eles ficam felizes. Cantam, dançam, gargalham... sempre foi assim. Mas, de um tempo pra cá, até eles andam me contrariando. Insistem em andar por aí, falando e sentindo coisas melancólicas. Não sei se os tranco no porão ou os substituo por uma trupe de comediantes. Por enquanto, sem saber o que fazer, lhes dei férias. Vão dormir por algum tempo. Dizem que quem dorme não sente.

         Entretanto, são as pessoas reais que me preocupam. Elas não cabem no papel e eu não tenho sequer uma única pitada de pó de pirlimpimpim para um encanto de emergência. Chamo, mas nossa fada madrinha não responde. Até ela desistiu. Deve ter se mudado de mala e cuia para o Polo Norte.

          Sem carnaval e há meses do verão, nem a copa do mundo parece aquecer os corações. Penso em tomar um porre, em me entupir de chocolate, em comprar uma passagem só de ida, até mesmo em adotar o Feliz da Branca de Neve. Só penso. Não faço nada. Fico bem quieta, esperando o inverno na alma passar.

          O que quero saber, de verdade, é como vamos voltar a ser quem éramos?

SP 06/09/22

bottom of page