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FILHA DE IEMANJÁ

           Respeito todas as religiões, mas sempre digo que fé e religião são coisas diferentes. Você pode ter fé e não ter religião nenhuma. Os homens da caverna já tinham fé em divindades e não seguiam qualquer religião. 

            Um dia, no outro século, século XX, um pai de santo me falou que sou filha de Iemanjá. Não sabia bem o que isso significava, mas fiquei contente com a filiação. Assim, se estou na praia no seu dia, dois de fevereiro, ou no final do ano, sempre jogo uma flor para a deusa. Gosto do ritual. Ainda mais para uma divindade feminina em um mundo tão machista. Nossa Senhora também me encanta na religião católica, assim como personagens guerreiras como Maria Madalena.

          O que me intriga é que em qualquer religião as deusas, santas e guerreiras são sempre coadjuvantes de deuses, santos e guerreiros. É uma pena! Se as religiões fossem mais feministas e femininas talvez a história da humanidade tivesse sido outra. Teríamos tido menos guerras, menos violência, seríamos uma humanidade mais sensível e cordial, com certeza.

           O risco maior era uma deusa se desentender com outra por causa de um traje mais bonito. Mas, sendo deusas, bastaria um bater de palmas e as roupas se tornariam equivalentes em beleza e, rapidamente, a discórdia teria fim. E afinal, beleza não é um prazer fútil. É o que deixa a vida mais leve e iluminada.

           Com tantos filhos para cuidar, as santas todas se ajudariam porque conheceriam como é duro uma jornada dupla ou tripla. Poriam ordem e horário em tudo para dar conta de tantos afazeres divinos. Também não haveria fome. Mulheres não podem ver pessoas com fome e correm para alimentá-los, nem que seja comprando comida delivery para ser entregue no céu ou no Olimpo.

          As mulheres ainda gostam de ouvir boas histórias e estimulariam os homens a falar.  A tal DR não seria mais exclusividade feminina. E se os homens não quisessem falar, sempre sobraria o recurso de ordenar. Ah, como iria ser bom saber mais sobre essa alma masculina, tão desconhecida.

          Enfim, já deu para perceber que não sou nem um pouco feminista, mas acredito que o mundo só teria a ganhar com o controle em mãos femininas e poderosas.

        No próximo dia 02 de fevereiro, vou jogar a flor e pedir para a minha mãe inverter essa bagunça masculina que fizeram no mundo. Vamos começar tudo de novo. Nós, mulheres, com a ajuda das deusas, vamos à caça, enquanto os homens preparam os beijus. O resto vem na esteira dos tempos.

 

SP 04.10.22

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