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DIGA NÃO!!

          Fui professora a vida inteira. Comecei a lecionar aos 18 anos.

       E, apesar de alguns intervalos para exercer o jornalismo, produzir teatro, escrever, ou só tirar um tempo para sonhar, sempre voltava à educação. Esse sempre foi o meu habitat natural.

          Não consigo imaginar um aluno meu, seja da educação básica ou da universidade, simplesmente querendo me ferir com uma faca ou, assustadoramente, me matar. O que está acontecendo? Que ódio é esse que leva um adolescente a atacar e matar alguém que só quer lhe ensinar?

              Não consigo deixar de buscar respostas.

        Penso que em apenas cem anos, passamos de uma criança totalmente sem voz, que não podia nem ficar na sala onde os adultos conversavam, a crianças que mandam em adultos. Crianças e jovens que não aprenderam a ouvir um “NÃO”, claro e sonoro, não suportam frustração e, principalmente, não toleram autoridade. Pais que, ao invés de educar, com medo do enfrentamento sempre necessário, cederam durante anos aos caprichos de seus pequenos reis e rainhas e fabricaram déspotas.

          Penso que também pode ser culpa dessa cultura das armas, que incentiva o ódio, que acredita na resolução de conflitos pela força, que investe o indivíduo, seja ele louco ou normal, do poder de ferir e matar. Uma cultura que não diz "NÃO" e ainda acha lindo um ser humano portar uma arma deve realmente estar muito doente. Precisa ser muito fraco para precisar de uma arma para se achar forte.

          Penso na propaganda da violência em filmes, novelas ou jogos. Na normalização da violência. E na banalização do mal, que a filósofa Hannah Arendt tanto discutiu, e que domina o ser humano comum que não consegue distinguir o certo do errado, que não consegue dizer "NÃO" e perde sua capacidade de se indignar frente ao mal.

        Penso na falta de flexibilidade, de empatia, que vê no outro que discorda por qualquer bobagem, um inimigo. Essa doença da sociedade chamada extremos e que durante séculos pareceu relegada a alguns desequilibrados, mas que agora desequilibra famílias, grupos de amigos e da escola. Mas ninguém diz "NÃO"

          Penso, penso e me entristeço.

         Não consigo deixar de buscar respostas. Espero que muitos o façam. Espero que muitos digam simplesmente: NÃO!

SP 28/03/2023

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