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O CORAÇÃO DE D. PEDRO

          Sou só eu ou você também, meu leitor atento, achou estranha essa história do coração de D. Pedro vir passear no Brasil?

          Primeiro, achei bem esquisito arrancarem o coração do antigo rei e guardarem no formol. Dizem que foi um pedido do próprio D. Pedro que gostaria de ter sido embalsamado e ficado na cidade do Porto. Mas será que ele gostaria que lhe abrissem o peito para nada? Ainda se fosse para uma doação do órgão, vá lá, mas pra ficar em exposição? E o pior: o corpo mora no Brasil, só o coração arrancado é que mora em Portugal. Isso mesmo. Você não está com nenhum problema de visão. Está lendo direitinho. O corpo mora do lado de cá do oceano e o coração do lado de lá. Tem coisa mais maluca?

          Apesar da simbologia, um coração é apenas um órgão humano que não tem nenhuma função fora de um corpo, mas, aqui no Brasil, o coração foi recebido com honras de chefe de estado. Como se o próprio d. Pedro estivesse presente. E o pior, nenhuma autoridade brasileira pareceu constrangida de homenagear um coração solitário e sem vida.

         Como a exposição não interessava a ninguém, foram os estudantes das escolas públicas de Brasília que foram visitar. O que um coração tem de interessante para um estudante? Nada. Qualquer estudante cansa de ver isso nas aulas de biologia. Mas escola pública obedece ao chefe, né?

         Fiquei curiosa para saber de quem tinha tido essa ideia esdrúxula de trazer o coração. Fui pesquisar e qual não foi minha surpresa, quando descobri que a ideia “genial” tinha sido da médica Nise Yamaguchi. Lembra dela? A doutora cloroquina. Aquela que foi contra a vacina da covid e que achava, como seu chefe, que a covid era uma gripezinha e que era só tomar cloroquina que sarava. Chegou, inclusive, a ser suspensa de trabalhar no hospital Albert Einstein. A ideia de trazer o coração de D. Pedro só podia mesmo ter partido dessa “mente brilhante”.

          O que talvez a Dra. Cloroquina não soubesse e, certamente, poucos brasileiros sabem, é que D. Pedro morreu jovem, aos 35 anos, de tuberculose e que, se naquele tempo, já houvesse a vacina para a doença como existe hoje, ele, provavelmente, não teria morrido tão cedo.

        Torço para que algum professor das escolas públicas de Brasília tenha aproveitado a visita inútil para reforçar esse aspecto da importância de todas as vacinas e tornar então esta, uma visita realmente de aprendizagem.

 

SP 30/08/2022

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