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HOSPITAIS

          Há lugares e lugares.

          Lugares que me encantam, lugares que me intrigam, lugares que me assustam.

        Sempre imagino hospitais como imensos monstros brancos, prontos a me engolir se eu não for muito esperta. Cada corredor, um braço esperando para me agarrar e não me soltar nunca mais.

        As máquinas, os aparelhos, quilômetros e quilômetros de fios para todo lado. Quase sempre me perco em seus labirintos. Um estômago enorme com entradas, escadas e portas fechadas.

         O monstro conhece bem e uiva minhas memórias mais tristes a cada visita. Uma mãe que não conseguia respirar, um pai que simplesmente desligou seu coração, um amor que lutou uma luta sem glória. Tudo cheirando a desinfetantes e corpos.

         Obediente ao monstro, sigo as muitas filas de rostos tristes. Todos em silêncio, enquanto a hierarquia dos aventais coloridos organiza as dores.

          Desconfio que nem a chegada da vida quer nada com o monstro e se mudou para outro lugar chamado maternidade. É preciso separar o começo do fim.

     Estou, provavelmente, sendo injusta com os monstros. São necessários, eu sei. O que seria da humanidade sem eles?

          Medo, respeito e até gratidão habitam dentro de mim. Com uma mão acaricio a cabeça do monstro, com outra, fecho meus olhos.

           Entretanto, pelo sim, pelo não, sigo rigorosamente a recomendação de jamais buzinar nas suas imediações. Tudo para não acordar o monstro.

SP 19/08/2025

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