Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
SAIR DE CENA
Como é difícil para a maioria das pessoas admitir que chegou a hora de sair de cena!
A longa novela para a renúncia de Joe Biden à reeleição americana nos mostrou isso claramente. Há vídeos, declarações, citações equivocadas, opiniões alheias atestando sua incapacidade em prosseguir, mas, mesmo assim, Biden continuava a dizer que podia enfrentar um novo mandato. Não! Não podia!
Por que nos negamos a ver que não temos condições de fazer algo?
E não estou me referindo apenas à idade avançada. Quantas pessoas encontrei pela vida em cargos que elas não tinham a menor condição de exercer, seja por incapacidade, por falta de experiência ou qualquer coisa que o valha. Toda a empresa via aquilo, menos a pessoa. Talvez o espelho de determinadas pessoas esteja com defeito ou elas sejam completamente surdas aos comentários de corredor, que sim, todos nós escutamos muito bem.
Quando devo parar de dirigir? Quando sei que não tenho mais a vivacidade necessária para realizar determinadas tarefas? Quando preciso colocar um aparelho de ouvido? Quando aquele microbiquini não mais me cai bem? Quando preciso pedir demissão porque não estou realizando ou entregando o que esperam de mim? Quando?
Não se trata de falta de empatia ou de etarismo, mas de realismo. Não é porque a humanidade está cada vez mais longeva, que nossa saúde ou capacidade cognitiva se tornaram infinitas. Não é porque o politicamente correto nos impede de falar muitas coisas, que a incompetência deixou de significar falta de competência.
É difícil, eu sei. Entretanto, sempre penso que é muito melhor alguém sair por si próprio do que esperar que saiam com ele. O problema é que não somos educados para isso. Não nos preparamos para isso. Não gostamos sequer de pensar em um plano “B”. Apesar de todas as pistas contrárias, acreditamos que somos algum tipo de super-herói que nem a idade, nem a falta de habilidade, de competência ou talento vão conseguir nos afastar do palco.
Costumo dizer que pra todo mundo chega a hora de ir pra casa fritar bolinho de chuva. Sem qualquer demérito. Pense bem, bolinho de chuva é fácil de fritar, é doce e relembra a infância. Tudo que precisamos para alimentar a alma e ficar em paz quando a saída de cena é inevitável.
SP 23/07/24