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CRÔNICA CHATA

          Tem dias como hoje, que queria comprar uma crônica pronta. Não importa o preço. Pagaria de bom grado, tal a minha dificuldade em colocar no papel qualquer coisa. Leio as notícias para ver se me inspiro, mas nenhuma delas me anima. É sempre a mesma dor, seja do mais fraco, do mais pobre, das guerras, de gente que pensa que é, mas não é.

        E por que o mundo tem de ter dores? Não sei! Já perguntei para o Chefe tantas vezes, mas ele nunca me responde. Aliás, acho que ele anda meio cansado de mim. São muitos anos fazendo perguntas indiscretas. Qualquer hora, ele arrebenta o fio de telefone que nos une.

          Talvez essa melancolia tão indesejada seja a proximidade com o Natal. Essa necessidade que todo ano me imponho de renascer junto com Ele. Quero renovar as esperanças, quero acreditar que o próximo ano será melhor, mais justo. Nem precisaria ser igual para todos, mas ao menos um pouco mais solidário. Entretanto, olho em volta  e fica muito difícil perseverar na fé.

          Quase admiro os anestesiados que não sentem qualquer dor. Deve ser bom olhar o mundo com uma lente cor-de-rosa.

          Já sei, você está achando que a crônica está muito triste, talvez até um pouco chata. Pode ser. Entretanto, nem todo dia é carnaval e eu não tenho uma fantasia apropriada pra novembro. Por isso, você que espere fevereiro chegar.

          Para me animar, uma amiga querida me escreve uma mensagem que ela acredita animadora. Leio, releio, quase choro. Quase... Outra amiga me liga pra contar uma fofoca quente, e eu só consigo pensar que a fofoca é a mesma de sempre, requentada, mas não digo nada. Vão e vêm mensagens, telefonemas, conselhos... Todo mundo tem um palpite para esse desânimo que pode ser apenas desânimo, o peso do final de um ano cansativo.

            Ouço tudo e ainda agradeço delicadamente, mas não muda nada.

        Está bem. Vou admitir baixinho. Eu que estou chata! Melhor ir tomar um café!

SP 28/11/2023

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