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O LABORATÓRIO

              Adoro praia.

          Adoro ficar na areia, passar horas no mar, andar de lá pra cá, tomar muitos sorvetes, perder o olhar no infinito, mas, de verdade, o que eu acho mais encantador na praia é o laboratório de gente a céu aberto. Tem absolutamente de tudo, ou melhor, de “todes”.

        Há algo no clima da praia, ou então no excesso de álcool consumido na praia(não sei ao certo) que libera as pessoas. Tem gente que ri muito alto, tem gente que conta seu caso engraçado, triste ou romântico pra praia toda sem precisar de megafone, tem a turma do pagode e do funk que acha que seu gosto musical deve ser imposto ao resto dos mortais, além dos casais que resolveram expor ao mundo todo, a sua DR. Esses são os exagerados.

          Tem as famílias que servem, obedientes, ao reinado das crianças. Os baixinhos mandam nos pais, nos tios, nos avós e até nos coitados dos vendedores ambulantes que chegam perto da barraca. As pequenas gritam, os pequenos jogam areia e os adultos, envergonhados da falta de educação de seus rebentos, fingem que é tudo muito divertido. Esses são os submissos.

         Tem o pessoal do futebol e do frescobol. A praia é pequena, está lotada, mas os esportistas (só do verão) resolveram bater uma bolinha. Meu olhar ameaçador, com décadas de treino com alunos, impede que qualquer um resolva bater essa bolinha na minha frente, tampando a minha vista do mar e ainda correndo o risco de me acertar. Sempre guardam distância da minha cadeira e eu rio por dentro enquanto mantenho a cara assustadora. Esses são os enganados.

        Ainda há os apaixonados. Ah, os apaixonados!! Pensam que podem ir para o mar dar “um pega” que ninguém está vendo o que está rolando. Quem olha da areia só vê um ao invés de dois, imagine então o que vê quem está no mar, bem do lado. Há também aqueles que nem ao mar vão, e o filme erótico, quase pornô, acontece bem ali, debaixo do guarda-sol.

       E, por fim, há os silenciosos como eu. Levam livro e óculos escuros para parecer que não estão prestando atenção à sua volta, mas claro que estão. Não perdem um detalhe e ainda preenchem as lacunas compondo histórias ao seu bel prazer com cada personagem de sunga, biquíni ou maiô.

        É ou não é um grande laboratório? Dá até vontade de misturar todos os elementos e compor uma fórmula mágica, uma peça de teatro, um musical, ou quem sabe, apenas uma crônica.

 

SP 16/01/2024

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