
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
A ESCOLHA

Há alguns anos, fui apresentar um trabalho em um congresso. Na verdade, o congresso era uma ótima desculpa para conhecer Belém e a Ilha de Marajó. Simplesmente adorei. Mesmo já tendo estado em plena Floresta Amazônica quando estive em Manaus, Belém e Marajó se revelaram muito mais do que eu poderia imaginar. A natureza ali é algo surpreendente e majestoso.
Assim, quando soube que a COP30 seria em Belém, achei acertada a escolha, apesar de saber dos problemas de infraestrutura para receber um grupo tão grande de visitantes. Mas, pensei, se algo se perde no conforto, o vislumbre da natureza é um ganho muito maior e fará com que governantes e comitivas do mundo todo se empolguem e entendam a necessidade de preservar aquele tesouro.
Agora, quase ao final da COP30, meu otimismo não está assim tão radiante. As delegações não se entendem na elaboração de um acordo que preserve não apenas a floresta amazônica, mas a natureza que ainda resta no mundo todo. Parece óbvio que não podemos mais poluir o planeta, mas governantes insistem no petróleo. Parece tão evidente que os desastres climáticos só aumentam ano após ano, mas as pessoas não acreditam. Parece que caminhamos de olhos abertos para um precipício.
Ninguém, com exceção de gente tola que acredita em mentira da internet, pode dizer que não sabe o que está acontecendo com o planeta, mas, estranhamente, os países parecem não se importar. O dinheiro sempre fala mais alto.
Vamos à pergunta que não quer calar: de que adiantará no futuro um país ser milionário, se ciclones, inundações e secas devastarem seu território? Do que valerá o dinheiro, se o ar estiver tão deteriorado que não conseguiremos mais respirar sem auxílio de máscaras? Quanto dinheiro vale as vidas que serão perdidas?
O que mais me angustia é que um grupo de pessoas de meia idade ou idosos que governam o planeta está escolhendo o futuro de milhões de crianças, algumas que ainda nem nasceram. Pessoas que parecem não se importar com o futuro, simplesmente porque já terão morrido no futuro. Uma escolha que, de verdade, não lhes pertencem.
Belém, com certeza, fez o seu papel. Pena que as pessoas são tão cegas e não enxerguem a beleza à sua volta. Assim caminha a humanidade, um passo para a frente e dois para trás.
SP 18/11/2025