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A PRIMINHA BURRA

          Só ouço falar e até enaltecer a tal da sabedoria popular, mas não vejo ninguém se lembrando da priminha burra, a ignorância popular. Em tempos de rede social, nunca vi a priminha obtusa ficar tão rica e poderosa, ganhando milhões de seguidores. Pessoas citam a priminha tapada se achando as mais entendidas e eu tenho vontade de chorar. Às vezes até choro de verdade, de raiva.

         Quando ouço ou leio uma barbaridade, criei o hábito de não responder mais ou, como fazia antes, tentar ensinar, simplesmente mando as pessoas estudarem, mas minha tia já me disse que isso é politicamente incorreto. Desta forma, acho que vou ter de me silenciar para não ofender aqueles que acham que não precisam mais estudar, mesmo tendo saído da escola há muitos anos.

        Tomo leite com manga e não morro. Ponho a vassoura virada atrás da porta e a maldita visita não vai embora. Como a última bolacha do pacote e continuo casada. Aponto estrelas e não tenho uma única verruga. Eram essas as crendices que a minha vó ou minha mãe acreditavam e que com o passar do tempo se tornaram até pitorescas e motivos de risada.

          Mas, de uns tempos pra cá, a priminha estúpida resolveu que entende de história, medicina, geografia, ciência e diz que vacina faz mal, que desodorante dá câncer e que essas mudanças climáticas, esse calorão absurdo, os ventos fortes, as enchentes não têm nada a ver com o desmatamento das florestas. A ignorância popular ganhou pernas, braços, só se esqueceu da cabeça e continua se alimentando de cabeças ocas.

          Sempre tive dó de pessoas desprovidas de inteligência, mas não se trata de inteligência, se trata de ir atrás da informação, de não aceitar a primeira estupidez que a ignorância popular divulga pela internet ou pelas redes sociais. Não é possível que as pessoas não desconfiem de algo tão absurdo como dizer que a Terra é plana!! Será que essas pessoas nunca viram uma foto da Terra bem redondinha, ou imaginam que a foto também seja falsa como essa acima?

         Tomara que no futuro a ignorância popular seja motivo de riso de nossos netos e bisnetos e que lembremos esses tempos sombrios de estupidez coletiva como algum tipo de praga da idade média que pode demorar, mas vai passar. E se você pensa que foi você que inspirou essa crônica, ora, é só ver se a sua orelha está coçando. Aposto que você também acredita nisso, não é?

SP 14/11/2024

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