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PAULISTA NA PADARIA

          Não conheço paulista que não goste de uma padaria, mas eu, bem... eu sou fã de carteirinha. Gosto de tudo no paraíso dos carboidratos, desde o óbvio como pão com manteiga na chapa, queijo quente e café com leite, lanches da minha infância, mas também não abro mão de um sofisticado capuccino com borda de chocolate ou um sanduiche enorme com tudo que tenho direito. Coxinha, pão de queijo, pão recheado, torta e aquele monte de doces no balcão é a perdição de qualquer dieta.

          Entretanto, não é só a comilança. Gosto de sentar no balcão e falar com o chapeiro e a moça do café, ouvindo as histórias de outros frequentadores ao meu lado ou, até melhor, bem em frente. Não preciso nem disfarçar, fingindo que não estou escutando. Claro que estou!! Eu e todo mundo. Ou você, leitor, nunca pensou por que o balcão é oval? O inventor devia ser um cronista abelhudo como eu.

          Padaria é quase como casa da gente. Pode-se ir de cara lavada, havaianas velhas e calça de abrigo que ninguém repara. Tem um povo até com cara de sono, ou de ressaca. Não faz mal. Todas as caras são bem-vindas à “padoca”.

        Paulista cresce indo em padaria. Desde criancinha, os pais já ensinam o caminho. E me divirto vendo os pequenos aprendendo a ser paulista em padaria.

          Outro dia, uma família, pai, mãe, filho e filha, entraram na minha frente. Enquanto os pais se distanciam em busca do pão francês de todo dia, os garotos ficam pra trás. No corredor estreito, uma das portas de vidro dos salgados está aberta e a pequena mete a mão para pegar uma coxinha, ou risole, ou aquilo que sua mãozinha conseguir. O irmão mais velho, ciente de sua responsabilidade, segura a mão da irmã um segundo antes do roubo se consumar.

          Muito sério, ele explica que ela não pode pegar, tem de pedir pra moça e também de pagar. A caçula o escuta, muito atenta, com cara de aprendiz, mas é só o mais velho virar as costas que a mãozinha agarra um croquete. Quando o irmão se vira, é tarde demais. Um pedaço já está na boca.

          Ele olha pra mim, com vergonha alheia, e me explica que ela é pequena. Digo que não faz mal, que é um só, e pergunto se ele também quer. Mas ele diz que vai comer um pão de queijo com requeijão no balcão. Sorrio.  É um paulistinha.

 

SP 11/04/23

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