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O QUE TE FAZ FELIZ

          - O que te faz feliz?

       Olhei com cara de boba para o meu interlocutor, surpresa com a pergunta tão direta. Me lembrei daquela  propaganda de uma grande rede de supermercados. A pergunta era a mesma, só não tinha a musiquinha.

         Enquanto pensava em uma resposta inteligente, só conseguia pensar em um enorme sorvete de crocante com calda dura de chocolate. Será que essa resposta serviria? Claro que não! Meu interlocutor perguntava seriamente, buscando algo muito profundo. Mas quantas vezes conseguimos ser profundos em nossos desejos? Profundidade no meu caso, só se fosse no poço dos desejos. O resto do que eu desejava era previsível e até fácil.

          Ter saúde para mim e para todos que eu amo, poder trabalhar no que gosto, ganhar dinheiro para pequenos prazeres, viajar todo ano, viver para ver as desigualdades diminuírem e sim, tomar muito sorvete. Depois de titubear uma eternidade, respondo assim, sem tanta profundidade, e meu interlocutor faz cara de decepção.

          Por que será que felicidade tem de ser complicada?! Não preciso de tanta coisa pra minha alma ficar aquecida. Às vezes, basta um chá quente em uma tarde fria, um telefonema de uma pessoa querida, um abraço demorado. Talvez não faça o tipo profundo, ou talvez gaste toda minha profundidade em meus personagens, esses sim, cheios de problemas existenciais. Afinal, felicidade não dá manchete de jornal e nem rende bons romances.

          O que eu acredito é que haja uma supervalorização da felicidade, como se ela fosse algo muito difícil, praticamente inalcançável e que não pudesse estar nas coisas e nos momentos mais simples da vida. Talvez seja justamente essa expectativa tão complexa que torne a felicidade impossível. As pessoas não conseguem admitir que estão felizes com momentos tão corriqueiros.

          Felicidade pra mim é como um prato quente de arroz e feijão feito na hora, em um dia de muita fome. Poderia ser um filé chateaubriand? Uma lagosta à thermidor? Claro que sim! Se tiver, melhor, mas o arroz e feijão já é o suficiente para eu abrir o sorriso da alma.

SP 05/11/24

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