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DOCE LEMBRANÇA

          Leio que a marca Pan vai a leilão e não resisto à nostalgia de me lembrar com carinho dos cigarrinhos de chocolate.

       Como eu gostava daqueles cigarrinhos! Me achava gente grande e importante, enquanto os segurava entre os dedos. Mesmo que eu, você e todo mundo saiba hoje o quanto é errado um chocolate fazer a propaganda de cigarro para crianças, ainda assim, lembro-me dos tais cigarrinhos como algo muito feliz da minha infância.

         O mais interessante é que jamais fumei. Assim, se alguém perguntar se a propaganda funcionou, posso dizer que comigo não. Sempre diferenciei muito bem a delícia do chocolate e os malefícios do cigarro.

         Meu pai, cardíaco grave, fumava Continental sem filtro e, mesmo proibido pelo médico, continuou fumando e acabou tendo um último infarto que o levou aos 64 anos. Não gosto de cigarro. Aliás, não gosto nem do cheiro, mas os cigarrinhos da Pan, que saudade!

          Cheguei a comprar o chocolate quando a Pan, cedendo à pressão do tempo e das campanhas contra o cigarro, mudou o cigarrinho para lápis. Mas achei bem sem graça. Lápis eu tinha aos montes. Era o cigarro, proibido para crianças, que me atraía.

          E não era só o cigarrinho. Também adorava as moedas de chocolate da Pan. Faziam parte de um sem fim de brincadeiras e ainda servia para fingir que tínhamos muito dinheiro. Eu economizava as tais moedas como se fosse dinheiro de verdade e até as escondia dos meus irmãos. Lembro-me de um aniversário em que o bolo foi enfeitado com uma arca de tesouro cheia das tais moedas. Fiquei maravilhada e com inveja!

          Quando adulta, continuei comprando produtos da Pan. E, apesar de saber que a qualidade não era assim uma Godiva, ainda era uma marca que me lembrava afeto, brincadeira, infância.... mas já eram claros os sinais de decadência. Pena! Na resistência, disposta a não colaborar com o fim da marca, ainda comprei muito pão de mel, bala de goma e lamentava a falta de balas paulistinha.

        A Pan foi fundada em 1935 e acompanhou inúmeras gerações, inclusive a minha. Só por isso queria ser milionária e comprar a marca no leilão. Pra fazer o quê? Sei lá! Milionário tem muitos caprichos e esse seria o meu, uma maneira de guardar a infância.

SP 30/01/24

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