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O LEITOR

          Um leitor me escreve reclamando que eu não postei a crônica da semana passada no meu site.

          Leio e releio o tal e-mail várias vezes e não sei se agradeço aos céus por ter pelo menos um leitor que me segue fielmente, ou se mando esse leitor pentear macacos. (Se é que macacos gostam de ser penteados. Preciso perguntar ao Google)

          Antigamente, todos os cronistas viviam de suas crônicas e, por isso, religiosamente na data certa, fizesse sol ou chuva, tinham que mandar seus escritos para o jornal. Hoje em dia, apenas uns poucos privilegiados ainda recebem por tal trabalho. Eu não faço parte do grupo. Escrevo porque quero e assim... também não escrevo porque não quero.

          Faço greve, tiro férias, fico doente, viajo pra China... desculpa é o que não me falta. Mas a imagem de um leitor abrindo meu site na terça-feira e não encontrando a crônica da semana, me corta o coração. Me sinto culpada como se tivesse cometido um delito grave. Nem adianta dizer que estou exagerando. Cronista só olha as coisas com sua lente de aumento. Vejo uma formiga e enxergo um elefante.

         Sem saber o que responder ao meu leitor, enrolo por uns dias, enquanto me decido se invento uma história triste ou se sou sincera e admito a falta de inspiração. Quem sabe digo até que foi um teste para ver se alguém sentia falta da crônica e que ele passou bravamente.

         Como minha mãe mineira sempre me ensinou que a verdade é sempre melhor do que qualquer mentira, tomo coragem e opto pela sinceridade. Peço desculpas ao leitor fiel e admito que tive um branco. Uma total falta de assunto e de vontade de escrever. Para minha surpresa, logo no dia seguinte, o leitor me responde com um e-mail tão gentil, tão especial, que choro feito criança.

          Durante o resto da semana, graças a esse leitor desconhecido, esse ser delicado e generoso, andei nas nuvens, mas, principalmente, me lembrei porque escrevo.

          Essa crônica é pra você!

SP 12/12/23

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