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O TELEFONE

          Tenho saudade do telefone.

         Claro que não estou falando daquele tijolão preto, que quem tem menos de 30 anos, nem conhece, e que ficava fixo em algum lugar da casa. O tal nos impedia de ter conversas particulares, já que a família inteira ouvia por perto. Alguns mais curiosos até pegavam na extensão. 

         Não. Estou me referindo aos primeiros telefones móveis, sem fio, ou até mesmo aos primeiros celulares. Telefones que serviam a um único propósito: conversar com quem estava longe.

        Hoje, os moderníssimos “smartphones”, que ainda insistimos em chamar de celular, fazem de tudo. Pesquisam, calculam, tiram fotos, filmam, têm jogos, aplicativos de todo tipo, mas o que menos fazem é conversar.

        As pessoas passaram a acreditar que trocar mensagem por whatsApp é conversar. Sinto informar, mas não é. São quase que informativos, praticamente os antigos bilhetes que passávamos escondido na sala de aula ou nos dias de prova com a cola. São curtos, concisos, impessoais, por mais que se engane, colocando os emojis prontos de coração.

        Conversar é uma troca de ideias, de sentimentos, uma escuta significativa ou um bom conselho. Ouvir, percebendo a tristeza ou euforia na voz do outro. Compartilhar uma história ou acontecimento divertido, um medo, uma aventura. Conversar exige tempo, entrega, uma disposição para o outro que as pessoas, cada vez mais individualistas, estão perdendo.

       Sempre quero conversar, mas tenho de primeiro mandar uma mensagem perguntando se a pessoa pode falar. Ora, nunca foi assim! Ligávamos e pronto. Se a pessoa pudesse falar, atendia, se não pudesse, não atendia e retornava quando pudesse. Havia um código social estabelecido e que funcionava maravilhosamente bem.

         Esse "smartphone", que não entende de aproximação, de "smart" não tem nada, é só mais uma barreira entre todos nós. O que me surpreende é que as pessoas tão facilmente se entreguem a esse novo comportamento, como se não sentissem falta do contato mais íntimo que uma longa conversa sempre proporciona. Talvez o problema não seja a tecnologia, mas as pessoas que mudaram. A humanidade que se esvai.

          Sinto saudade.

SP 29/07/2025

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