Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
BRIGA DE AMIGAS
Uma amiga fica chateada com a outra. Escuto as duas e acho que ambas têm razão e nenhuma das duas tem razão.
Amigas de longa data entre si e também comigo, as duas querem minha opinião, ou melhor, querem mesmo é que eu me posicione de que lado estou. Ora, não estou de lado nenhum. Por que tudo tem de ser polarizado atualmente?
Separadamente, e com toda calma do mundo, tento explicar para uma, o ponto de vista da outra e vice-versa. Elas me olham desconfiadas e não acham que eu tenha razão nos meus argumentos. Penso, “bem modestamente”, que sou muito boa argumentadora, mas elas estão com raiva e pessoas com raiva não pensam. Ficam completamente burras, mesmo que não o sejam normalmente. Tenho vontade de dizer isso a ambas, mas só colocaria mais lenha na fogueira.
Depois de muitos dias de tentativas frustradas para tentar reconciliá-las, resolvo administrar o remédio mágico. Qual remédio? Tempo.
Não atendo os telefonemas por alguns dias, não respondo mensagens, deixo que o tempo faça efeito. As duas, contando a mesma história dez mil vezes, querendo me convencer no cansaço que era uma ou outra que estava certa, mesmo que inconscientemente, estavam me usando para manter a briga. Explico. Como não conseguiam o seu intento, recontar a história para mim só servia para alimentar a raiva. Penso tudo isso, mas não digo nada. Só me afasto de ambas para que o fogo apague.
Alguns dias depois, vejo que uma curtiu a postagem da outra em uma rede social. Depois, o contrário. Mais alguns dias, e um comentário simpático e outro e mais outro. Percebo que a rusga ficou no passado e marco um café a três.
O café está uma delícia, a conversa divertida, quando não sei bem como, a conversa envereda para o desentendimento recente. Começo a pisar em ovos, com medo de azedar o relacionamento delas tudo de novo, quando, para minha surpresa, uma delas diz que a culpa é minha. Como??? Para meu completo estarrecimento, a outra concorda. Ambas dizem que eu deixei que elas brigassem e não fiz nada para que elas se reconciliassem.
Eu olho admirada para as duas, ou melhor, completamente embasbacada. Respiro fundo, engulo a raiva e peço mais um café. O que não se faz por quem se ama?
SP 02/08/22