Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
MENOS TRABALHO, MAIS LAZER
Desde que o mundo é mundo, quem tem riqueza tem empregados, ou mais antigamente, escravos. Desde os faraós no Egito, aos reis da Europa, aos milionários atuais, todos construíram suas fortunas a custa do trabalho de outras pessoas. Até aí nenhum problema, se não houvesse empregados que não ganham o básico para viver dignamente e trabalham horas e mais horas, vivendo para trabalhar unicamente e, mesmo assim, sem poder comer direito, ou se vestir direito ou ter horas de lazer.
Ora, toda vez que o lucro é absurdo, a ponto de criar milionários ou bilionários, alguma coisa está errada. Noventa e nove por cento das vezes o patrão não está pagando o que deveria pagar pelo trabalho de seus funcionários. Só pensa em acumular bens e não pensa em dividir corretamente com quem lhe ajuda a construir sua fortuna. Sempre ouço algum empresário milionário se vangloriar de que oferece milhares de empregos, como se isso fosse uma grande boa ação e não uma compra em que a parte mais fraca sempre se vende barato. Isso se repete há milhares de anos e só mudamos de um tipo de escravidão para outro tipo. Ah, você não acha que é escravidão? Quando alguém não pode parar de trabalhar ou ter horas de lazer, como isso se chama?
Ouço a discussão sobre a nova jornada de trabalho e pequenos e grandes empresários sendo absolutamente contra. São contra como eram os industriais e empresários no século XVIII, quando as pessoas trabalhavam 14 horas por dia e todo mundo achava normal. Hoje, olhamos pra trás e sabemos o quanto era errado. Ninguém pensa que pode estar acontecendo a mesma coisa e que, daqui a alguns séculos, as pessoas simplesmente fiquem horrorizadas de saber que existiu uma sociedade em que os mais pobres trabalhavam 44 horas por semana e ainda não eram remunerados dignamente por isso.
À medida que a sociedade, pelo menos, se abre para a discussão, estamos dando um grande passo. Ah, vai ter de contratar mais empregados? Que bom! Significa menos gente desempregada! Ah, o custo dos produtos vai subir? Se subir demais, ninguém vai comprar e quem sabe o empresário resolve que pode absorver o custo e diminuir seu lucro? Parece utopia? Não creio! Só creio que do jeito que está não pode ficar.
Eu, se fosse um empresário bilionário, estudaria história para saber que pode demorar, mas um dia o povo acorda, se revolta, e quem sabe corta algumas cabeças como foi na Revolução Francesa ou com os czares na Rússia. Ninguém deseja isso, não é?
Vamos discutir sim a diminuição da jornada de trabalho e que essa seja a primeira de muitas discussões em que haja avanços para o mais pobre. E, quando o milionário estiver em seu barco de muitos pés, em um sábado, quem sabe tomando uma champagne, possa haver um operário tomando um guaraná na areia, curtindo sua folga. Parece pouco, mas já é alguma coisa!
SP 12/11/2024