
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
DISTOPIA ANUNCIADA

Apesar de gostar de romances e séries distópicas, ultimamente tenho evitado o gênero. Tenho a sensação de que já há alguma coisa distópica fora da ficção acontecendo no mundo com a ascensão dessa direita radical tão embrutecida, raivosa, perigosa, e o pior de tudo, com milhões de seguidores completamente ignorantes, incapazes de interpretar corretamente o contexto em que vivem.
Quando Elon Musk, o homem mais rico do mundo que controla uma grande rede social e ambiciona controlar outras, assume por meios indiretos o poder da nação mais poderosa do mundo e faz saudações nazistas no dia da posse, será que só eu percebo que há alguma coisa de muito errada acontecendo? Vi e revi o vídeo várias vezes e, a cada vez, ficava mais assustada. Como sul-africano que é, ele jamais poderia ser presidente americano, impedido pelas leis dos EUA, mas um tolo Trump serve bem como uma marionete de pele cor-de-rosa.
Se as pessoas que atentaram contra a democracia americana para evitar que um presidente legalmente eleito tomasse posse, para isso assassinando um guarda que estava em sua função de proteger o Capitólio, são anistiadas, o que garante que essa democracia já não morreu?
Depois de assinar um decreto em que proíbe que pessoas trans existam civilmente, o que está por vir? Não é apenas a expulsão de imigrantes, mas a intransigência com tudo o que é diferente, sejam gays, negros, estrangeiros, pobres, exatamente como o nazismo de Hitler que, ao contrário do que muita gente pensa, não se voltava apenas contra os judeus, mas contra todos que não fizessem parte da chamada raça pura.
Quando um governo acha que pode tirar do Panamá o seu canal, ou entrar no território mexicano quando quiser, com a desculpa de procurar gangues de traficantes, ou ainda querer anexar a Groenlândia, as pessoas acham normal? Qual a diferença dessas pretensas invasões para a invasão russa na Croácia?
Vejo dezenas de posts na internet reproduzindo mentiras, alimentando ódios, fomentando a distopia e quando você comenta, tentando mostrar o quanto aquela pessoa está equivocada, a pessoa ainda lhe responde com mais ignorância.
Como professora, me pergunto diariamente, como mostrar a essas pessoas que elas estão sendo manipuladas? O que o resto do mundo que ainda é equilibrado e que, graças a Deus, ainda é a maioria, pode fazer antes que a ficção se torne realidade?
SP 21/01/25