
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
CIGANOS

Tenho um certo fascínio por ciganos
Quando eu era criança, de vez em quando, aparecia uma cigana na rua e minha mãe dizia que ciganos roubavam crianças. Não sei de onde ela tirou tal ideia. Mas eu olhava para aquelas mulheres tão coloridas e não conseguia ver nada que me assustasse.
Há pouco tempo, reli O Corcunda de Notre-Dame e não me lembrava mais de que a personagem Esmeralda tinha sido raptada por ciganos quando era criança. Será então que minha mãe tinha razão? Ou seria apenas preconceito de Victor Hugo?
Fui à pesquisa e descobri a origem do preconceito.
Na Idade Média, quando ainda havia muitos agrupamentos ciganos, quando alguma mulher tinha um filho e não podia criá-lo porque normalmente era um filho fora do casamento e a sociedade era cruel com mães solteiras ou adúlteras, essas mulheres ou seus pais davam o bebê para ciganos junto com dinheiro para que ele ficassem com a criança.
Como eram nômades e levariam a criança para longe, escondendo assim o “mau-passo” da donzela, os ciganos eram sempre a escolha mais usual. Entretanto, os ciganos tiveram sua origem na Índia e tinham a tez escura e muitas vezes as crianças eram loiras de olhos claros, o que imediatamente despertava a desconfiança das pessoas, pois nitidamente a criança não podia ser filha deles.
Além disso, como estavam sempre em movimento, não criavam raízes e quando chegavam a algum povoado eram pessoas desconhecidas e o novo sempre assusta. A rainha Elisabete I chegou a decretar que ser cigano era um crime punido com a morte.
E assim o preconceito foi crescendo, atravessando continentes até chegar à literatura. Tanto na literatura estrangeira como na brasileira há obras que retratam os ciganos como ladrões, o que só colaborou para difundir ainda mais um conceito errado.
Não vou julgar os escritores de séculos passados, afinal, os escritores sempre reproduzem o contexto em que vivem, e não podem ser responsabilizados por aquilo que toda uma sociedade apregoava, mas, em pleno século XXI, as pessoas não têm desculpa. Ninguém precisa ir a uma biblioteca ou frequentar um curso para se informar melhor. Todo o conhecimento está ao alcance da mão, naquele aparelhinho que nos acompanha dia e noite. É só querer aprender.
Ah, Charlie Chaplin e Juscelino Kubitscheck tinham ascendência cigana e aposto que você não sabia. Eu também não sabia!! Foi o aparelhinho que me contou.
SP 16/09/25