
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
URGÊNCIAS

No mundo passado, era só telefonema. Depois passou a ser telefonema e e-mails. Mais tarde incorporaram-se as mensagens de texto e, por fim, os whats. Agora, para completar ainda tem o teams ou zoom, ou sei lá mais quantas plataformas em que as pessoas lhe chamam para reuniões e conversas o tempo todo como Instagram, Linkedin, Youtube, e mais toda rede que alguém lhe procure.
Tem dias que eu simplesmente fico cansada de responder tantas demandas. Me perco nos e-mails, nos whats, nas mensagens privadas e não privadas e, quando não respondo prontamente, o telefone toca ou alguma rede apita:
- Você não viu a mensagem que eu lhe mandei há uns dez minutos?- pergunta a pessoa do outro lado, um tanto quanto indignada com a minha demora.
Como assim? Eu penso horrorizada. Será que a pessoa pensa que eu fico olhando esse aparelhinho e não faço mais nada? Meu trabalho se resume a responder mensagens?? Não crio, não planejo, não penso, não executo??
Ao final do dia, minha cabeça é uma sopa de letrinhas completamente embaralhada. Fiz e falei sobre tantos assuntos diferentes com tanta gente que tenho um enorme cansaço mental. Sobram letras, falta caldo. Vira uma papa confusa em que a massa perde a forma e pês se confundem com bês, que entranham nos jotas e estragam os gês.
Às vezes, rezo por um pulso eletromagnético que interfira em todos os satélites do espaço. Não precisava ser um pulso muito forte, apenas um pulsinho, o suficiente para que, por alguns dias, possamos nos desconectar de tudo e de todos. O mundo inteiro fique em silêncio para que possamos ouvir apenas o pingo de chuva, o latido do cão, a fala mansa de quem nos acompanha. Possamos ter tempo de solidão para imaginar e criar.
Um tempo longe das falsas urgências!
São Paulo, 02/09/2025