Miriam Bevilacqua

          Estamos vivendo uma verdadeira enxurrada de hipócritas.

        A palavra hipocrisia vem do grego e significava a arte da encenação. Na Grécia Antiga, os atores eram chamados de hipócritas. Na verdade, não era o ator que estava com raiva, ou triste, ou pensativo e por isso, naquele tempo, eles usavam máscaras para demonstrar os mais diversos sentimentos. As máscaras ajudavam o público a diferenciar o personagem do ator.

          O tempo passou e o termo evoluiu. Hipócrita hoje é todo aquele que finge ser o que não é. Políticos aproveitadores e pessoas atrasadas que combatem o casamento gay como se isso fosse o problema da família brasileira. Como se a família “Doriana”, essa fantasia, existisse na casa de alguém. Pois é, não existe!

          As pessoas mentem, as pessoas traem, as pessoas brigam porque o ser humano não é perfeito. Nunca foi. E as pessoas se separam porque não estão felizes. Mas os hipócritas fingem que não veem que a homoafetividade não tem nada a ver com isso. Fingem para os outros que sua família é perfeita, mesmo com todos os conflitos que há em qualquer família. Preferem ver dois homens ou duas mulheres infelizes, fingindo fazer parte da família “Doriana”, do que felizes, vivendo um amor homoafetivo. Hipocrisia!

          Existe uma parcela da população brasileira, atrasada, que não é capaz de compreender que a sociedade mudou, e que a homoafetividade sempre existiu, desde a Antiguidade, mas que as religiões as descriminaram, as consideraram pecaminosas, sujas, o que não é verdade. Uma parcela que acha que não precisa se atualizar, prefere conservar seus pensamentos retrógrados e fingir que é perfeita e a dona da verdade.

          Uma criança criada em um lar harmonioso, hetero ou homo, é o que importa. Uma criança em um lar desajustado, com brigas homéricas em uma família hetero, vai deixar marcas para toda a vida! Ser hetero não significa nada quando se fala em educação.

          Cada família tem o direito de se constituir da maneira que faz seus membros felizes. Ninguém tem nada a ver com isso. Não estão fazendo mal a ninguém. Políticos honestos, conscientes, têm de fazer leis que protejam todos os tipos de famílias, protejam os indivíduos, e não condená-los a viverem escondidos, envergonhados de sua felicidade.

       Como alguém pode condenar o amor? É preciso ser muito ignorante!! E não me venham falar de religião. Nenhum Deus condena o amor.

          Já passou da hora do hipócrita tirar sua máscara, vinte e quatro horas grudada em seu rosto, e nos deixar ver quem de verdade ele é.

 

SP 17/10/23