
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
BOLINHOS DE CHUVA

Às vezes, as dores do mundo doem tanto que desligo a televisão, abandono as redes e penso em bolinhos de chuva, doces, quentes, da cor da minha infância.
Foi assim que aprendi a gostar de chuva.
Queria que a chuva viesse rápido. Não forte demais que levasse casas e barracos, mas constante, contínua, até limpar de vez essa sujeira entranhada nas vidas, que contamina os sonhos, torna opaco o futuro.
Fico imensamente cansada lendo as notícias. O que aconteceu com as pessoas? Quando foi que deixaram de ser pessoas e se tornaram tão idiotas a ponto de acreditar em qualquer besteira, não ter empatia com o mais fraco, viver, dia após dia, esse ódio, essa mesquinhez da ignorância?
Tento ser sensata, manter a calma, mas é grande a vontade de gritar bem alto e por que não, também chutar latas e amassar ideias?
Um, dois, três... o cachorro late, a criança grita brincando, um adulto solta uma gargalhada, Chico canta no meu som, Drummond recita e aquela orquídea novamente deu flor.
Bolinho de chuva de verdade, depois de frito, tem de passar no açúcar com canela. Muito açúcar. E comer devagar, saboreando cada pedacinho e lembrando de cada coisa, cada sentimento que nos faz humanos.
Quer a receita?
SP 13/05/2025