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VINTE E SEIS ANOS

           O que você estava fazendo quando tinha 26 anos?

      Eu havia acabado de ter meu primeiro filho. Casada há pouco tempo, ainda me atrapalhava na função de mãe, esposa e dona de uma casa. A carreira estava estagnada, afinal, eu não dava conta de ser mais nada.

          Com 26 anos, você olha para o seu filho recém-nascido, olha para si própria no espelho e imagina que tem anos infinitos pela frente. Aliás, não imagina nada, porque a ideia de morte não lhe passa sequer pela cabeça.

         Com 26 anos, parece que seu corpo está ligado em uma bateria que não desliga nunca. Muito mais sofisticada e eficiente do que qualquer bateria de todos esses smartphones de última geração que sempre nos deixam na mão. Em seu processador cabem tantas ideias e tantos projetos que não há memória artificial que faça o mesmo. Com essa energia e essa memória, o tempo parece não lhe dizer nada.

          Aos 26 anos, ainda me permitia perguntar o que era mesmo que eu queria ser na vida. A tal pergunta dos tios velhos, “o que você vai ser quando crescer?” ainda tinha muitas respostas. E tudo bem ter tantas dúvidas porque você tem apenas 26 anos.

         Breve, fugaz, um sopro, um flash... li de tudo nesses dias tentando definir a vida curta. Sim, foi muito curta, mas quando leio tudo que essa moça fez em 26 anos, não deixo de me surpreender. Marília Mendonça viveu muito mais em 26 anos do que a grande maioria das pessoas em oitenta. Há tanta gente com sessenta ainda perseguindo sonhos; com cinquenta, ainda tentando entender a que veio; com quarenta,  agindo como adolescente.

         Não estou dizendo que uma morte prematura se justifica se a vida foi intensa, mas apenas pensando... que bom que ela foi intensa, vigorosa, poderosa. Que maravilha olhar para os seus 26 anos vividos e ter um orgulho enorme de tudo que você construiu. Só quem se arrisca, só quem vai atrás com determinação e, principalmente, perseverança, é que consegue tal façanha.

        Quem tem medo de se expor, de viver seus projetos, de tomar decisões, não vai a lugar nenhum aos 26 anos. Ainda está engatinhando, como a maioria de nós.

       Vá em paz, Marília! Sua passagem por aqui foi rápida como um cometa, mas também luminosa como somente seres de luz conseguem ser.

São Paulo, 10/11/2021

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