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MINHAS CHAVES

           Tenho fascínio por chaves.

        É algo esquisito, que contraria qualquer bom senso. Por exemplo, tenho todas as chaves da casa de minha mãe. Você deve estar achando natural, mas preciso lhe contar que minha mãe faleceu há vários anos e seu apartamento já foi vendido há muito tempo. Então, por que não consigo jogar as chaves fora? Imediatamente, como bom psicólogo de araque, você deve estar relacionando ao fato de ser minha mãe e eu não querer me separar definitivamente dela, jogando as chaves fora. Sinto lhe informar, que não é nada disso. Guardo chaves sem nenhum afeto pessoal.

         Tenho cópias de chaves guardadas de todos os carros que já tive. Por que não entreguei as cópias quando os carros foram vendidos? Ora, se eu soubesse a resposta não estaria aqui escrevendo essa crônica, lhe contando mais uma das minhas manias na esperança de que você me ajude a descobrir o que eu não sei.

          Sempre penso que uma única cópia é pouco e faço muitas mais. E as chaves se avolumam em minha vida. Possuo, há décadas, duas caixas de madeira cheias de chave. A maioria delas, eu não tenho a menor ideia de onde são as chaves e, claro, o que abrem. Mas, sempre penso que se jogar fora, posso me arrepender no futuro quando encontrar uma fechadura fechada. Fechadura fechada é um pleonasmo? Não importa. Tenho medo de portas, gavetas ou baús fechados que eu não consiga abrir.

        Uma das minhas chaves prediletas é uma diferente de todas as outras, pequena, com um número gravado. Encontrei em uma gaveta do meu pai, depois de sua morte. Estava dentro de um envelope amarelo minúsculo sem nenhuma indicação. Fucei, fucei e descobri que é uma chave de cofre. Mas o meu talento como Sherlock Holmes acabou por aí. Se havia um cofre, jamais consegui encontrar e quem encontrou, deve tê-lo arrombado sem ligar a mínima para a minha chave.

      Dizem as más línguas que até Jesus gosta de chaves e foi pessoalmente buscar a chave do inferno com o diabo, já que o diabo não costuma ser de confiança e essa chave em suas mãos não seria mesmo algo recomendável.

          Agora, sou obrigada a confessar: tenho muita inveja de São Pedro! Que maravilha possuir a chave do céu, aquela chave enorme, dourada, e decidir para quem ele abre ou não abre o grande portão. Eu não podia ter uma chave dessas na mão. Meus poucos desafetos iriam ficar eternamente na fila esperando o tal portão abrir. Quem são os raros desafetos? Impressionante!! Você é mesmo abelhudo!! Fique sabendo que esse é um segredo guardado a sete chaves.

SP 08/11/2022

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