Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
LADOS
Uma pessoa tem muitos lados. Difícil alguém gostar de todos os lados. Nem eu mesma gosto de todos os meus lados, quanto mais de uns lados esquisitos que as pessoas têm.
De vez em quando, descubro no outro, um lado de baixo que estava bem escondido, mas a pessoa quis arrumar o lado de cima e acabou descortinando o lado de baixo. Bem que ela se esforçou em cobrir bem rápido tudo de novo, o problema é que eu já tinha visto. E, para algumas coisas, tenho memória de elefante.
Desde então, o quadro nunca mais foi o mesmo.
Depois do choque, de se sentir até um pouco ludibriada, vem a fase da aceitação. Afinal, ela só não tinha mostrado o tal lado. Jamais havia dito que não o possuía. E, pra dizer a verdade, não é assim o lado negro da força. É só um lado que precisa ser muuuuuito melhorado.
No fundo, nós criamos altas expectativas. Idealizamos as pessoas queridas. Queremos que sejam quase perfeitas e as queremos sem lados estranhos a serem descobertos.
Pensei muito a respeito nos últimos tempos. O que é aceitável e o que não é? O que um amigo pode cometer de erros? O que eu consigo desculpar?
Sou exigente, eu sei. Deve ser difícil ser meu amigo. Além de expectativas altas ainda sou carente, quase o pior dos mundos. Talvez seja por isso que as pessoas não se mostrem por inteiro logo no início. Quando mostram seus lados ocultos, já gosto tanto delas que relevo. Creio que todo mundo é assim. Eu também sou assim. Quando quero conquistar a amizade e carinho de alguém sou até meiga.
Entretanto, apesar da aceitação, não posso esquecer. Como amiga, me sinto na obrigação de ajudar a melhorar o lado sombrio. Mas como abordar o assunto? Como dizer que eu sei que você é assim e assim não é tão bonito?
Acho que vou mandar umas rosas com um bilhete. “Afinal, se até rosas lindas e perfumadas têm espinhos por que um amigo não teria? Estou aqui para ajudar a aparar os espinhos”.
Será que ela vai entender?
SP 17/09/23