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CAIXA ELETRÔNICO

          Estou com pressa e preciso tirar dinheiro. Entretanto, na minha frente, um senhor de bastante idade “briga” com o caixa eletrônico já há um bom tempo.

          Quando fiz dezoito anos e abri minha primeira conta bancária, não existia caixa eletrônico. Pra dizer a verdade, eu também não tinha dinheiro, mas quando queria tirar alguns parcos cruzeiros, a moeda da época, era na boca do caixa com uma pessoa de verdade. Dizia o valor bem baixinho com medo de ter algum assaltante de tocaia, pronto para roubar meu rico dinheirinho, assim que eu deixasse a agência bancária. Pegava as notas meio escondido e rapidamente as colocava na carteira.

          Em 1983, os caixas eletrônicos chegaram no Brasil. Atrasados, como quase tudo, já que os caixas existiam na Inglaterra, desde a década de 60. Acho que eles não sabiam nadar, por isso demoraram tanto.

             Até hoje, enquanto espero as cédulas saírem pelo buraco do caixa eletrônico, tenho medo de que elas não saiam, que a máquina simplesmente engula meus pobres reais ou que alguém veja o dinheiro. Se depois de décadas ainda tenho essa sensação, fico imaginando o que sentirá o senhor à minha frente.

          Pensei em oferecer ajuda. Entretanto, apesar de achar que não tenho cara de meliante, tem algo mais suspeito do que alguém oferecer ajuda em um caixa eletrônico? Ainda se estivéssemos em uma agência, eu poderia ajudar chamando um atendente, mas em um cantinho escondido de uma loja de conveniência, imagino que seria suspeito demais.

         Além disso, em um tempo do chatíssimo politicamente correto, ainda poderia ser acusada de etarismo. O tal senhor poderia achar que eu o estava subestimando só porque ele tinha idade avançada. Enfim, só me restava aguardar pacientemente.

          Quando já estava quase desistindo e indo procurar outro caixa, o senhor sai reclamando, bravo, e me avisa que o caixa eletrônico estava quebrado. Espero que ele se afaste e tento eu mesma. Faço o saque regularmente e percebo que não há problema algum com a máquina.

         Fico triste. É desolador viver em um tempo em que a gente não pode prestar ajuda por medo de ser mal interpretada. O tempo da desconfiança.

 

SP 23/01/24

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