
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
QUASE ATLETAS

Na academia, enquanto descanso entre uma sequência e outra de exercício, observo em volta. Eu sei o que você está pensando, que eu estou sempre observando. Claro! Se eu não observar o tempo todo, de onde tiro assunto pra tanta crônica?
Voltando ao que interessa. Estava observando e percebi que nunca vi tanto idoso na academia, desde há alguns anos, quando um ortopedista me ameaçou dizendo que, ou eu fazia academia ou não iria andar mais. Tem algo mais irritante do que ter de admitir que o médico está certo? Pois bem. Lá fui eu para fortalecer os músculos e descobrir, surpresa, que academia podia ser algo divertido.
Entretanto, naquele tempo, a academia era repleta de jovens de roupas coloridas e apertadas. Eu mesma cheguei a comprar algumas roupas amarelas e laranja neon para não me sentir desambientada. Idosos eram atração se existisse algum. Hoje em dia, tudo mudou. Há tantos idosos que creio que, em pouco tempo, eles serão maioria.
Há um idoso, bem idoso, que começou na academia há cerca de um ano. Chegou de bengala, como muita dificuldade para andar e até mesmo para subir na esteira ou em qualquer outro aparelho. Observo que, de uns tempos para cá, ele até esquece a bengala encostada na parede e vai de um aparelho para outro sem dificuldade. Toda vez que passa por mim, sorri, como se estivesse dividindo comigo o seu progresso. Eu entendo e sorrio de volta.
Gosto muito de um casal de idosos que fazem exercício juntos, no mesmo aparelho, se revezando, ou em aparelhos lado a lado. Enquanto se exercitam conversam dos filhos, dos netos e eu sempre fico do lado deles, ouvindo as histórias. Quase já conheço a família de tanto escutar. É muito bom ver um casal idoso que ainda tem tanto assunto, se exercitando e se divertindo com a companhia um do outro.
A idosa moderna veste as roupas mais bonitas. Eu sempre me surpreendo como ela, sem usar nada gritante, consegue ser tão elegante nos seus 75 anos. Como eu sei a idade dela? Perguntei, claro! Mas depois, pra compensar a indiscrição, fiz um monte de elogios à sua beleza, que ela agradeceu envaidecida.
O tempo passou. A sociedade mudou, se tornou longeva e, obviamente, a academia seguiria o mesmo caminho. Até eu, que entrei na academia quando ainda fazia parte do outro grupo, mudei de lado e me tornei mais uma idosa a desafiar a idade e o sedentarismo. Não vou ser nunca uma atleta, mas quem sabe, no futuro, uma velhinha malhada com seus cem anos, levantando alguns pesos e ainda achando a vida muito divertida.
SP 02/07/24