Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
O BURACO
- Nossa, João, sempre ouvi falar do buraco de Maceió, mas ele é enorme!
- Enorme mesmo, Pedro.
- A natureza é estranha. Imagina formar um buraco desse tamanho no meio da cidade.
- Não foi a natureza não, Pedro!! Isso é obra de gente, gente burra, mas gente.
- Não entendi. Cavaram esse buraco enorme pra quê?
- Não cavaram. Meu pai conta que há mais de 50 anos, acho que em 2023 ou 2024, o buraco apareceu porque uma empresa estúpida queria extrair sal bem no meio da cidade e foi cavando por baixo, cavando, cavando... até que tudo desabou.
- Não pode ser!! Não acredito, João! Eles acharam que podiam ir tirando a terra de debaixo e a terra de cima não iria desabar?
- Claro que eles sabiam do perigo. Já tinha até processo correndo na justiça contra a empresa, mas meu pai conta que naquela época todo mundo era corrupto. Então bastava molhar a mão das pessoas certas e a empresa continuou por mais décadas até que tudo desabou.
- Ainda bem que não tinha ninguém morando aqui.
- Claro que tinha. Um monte de famílias! Cinquenta e cinco mil pessoas.
- Como assim??
- Ora, era gente pobre. Avisaram que tudo ia desabar e mandaram as famílias saírem.
- E ninguém reclamou?
- E lá alguém escutava quando pobre reclamava?? Naquela época, pobre pra político e milionário era só massa de manobra.
- Devia ser difícil viver no Brasil há cinquenta anos, né? Ainda bem que esse tempo acabou e os corruptos daquele tempo não existem mais.
- Ainda bem mesmo! Nada como colocar gente ruim na cadeia e jogar a chave fora.
SP 19/12/23