Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
O RIO
Enxergue o rio.
Você está na margem de cá, mas tem a margem de lá.
Aquela margem que você tenta ignorar há tanto tempo.
Tem dias que a água está barrenta. Não se vê o fundo. Não dá pra saber se tem vida. Compreendo a cautela.
Porém, tem dias que a água é límpida. O rio corre levando tudo. Experimente.
Está gelada. Um arrepio de receio percorre o corpo.
Longe da nascente. Longe da foz. No meio do nada. Entre margens.
Seus pés tocam e não afundam. Boiam como sempre boiaram. À tona. Sempre à tona.
Às vezes, não há canoa. É preciso nadar. Mergulhar até o pescoço.
Sem qualquer garantia.
A margem de lá pode ser apenas a margem de lá, ou não.
É melhor tocar do que sonhar.
SP 06/02/24