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O RIO

          Enxergue o rio.

          Você está na margem de cá, mas tem a margem de lá.

          Aquela margem que você tenta ignorar há tanto tempo.

          Tem dias que a água está barrenta. Não se vê o fundo. Não dá pra saber se tem vida. Compreendo a cautela.

          Porém, tem dias que a água é límpida. O rio corre levando tudo. Experimente.

          Está gelada. Um arrepio de receio percorre o corpo.

          Longe da nascente. Longe da foz. No meio do nada. Entre margens.

          Seus pés tocam e não afundam. Boiam como sempre boiaram. À tona. Sempre à tona.

          Às vezes, não há canoa. É preciso nadar. Mergulhar até o pescoço.

Sem qualquer garantia.

          A margem de lá pode ser apenas a margem de lá, ou não.

          É melhor tocar do que sonhar.

 

SP 06/02/24

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