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O HORROR DA CENSURA

          Deputados do Mato Grosso do Sul que votaram contra o livro O Avesso da Pele, ou seja, votaram para que ele fosse recolhido das escolas, admitiram que jamais leram o livro.

       Não!! Você não entendeu errado. Os eleitos para serem representantes do povo não tiveram nem a decência de ler o livro para se pronunciarem. Endossam a grande massa de ignorantes por opção. Ignoro porque não leio, ignoro porque não estudo, ignoro porque não pesquiso, ignoro porque é mais fácil. Como se ser ignorante no Brasil, de uns tempos para cá, fosse um mérito e não uma imensa estupidez.

          Em tempos de gente que acredita em terra plana porque não estuda o mínimo de ciência e geografia, em tempos de negacionistas de vacina porque acreditam em qualquer besteira fake que um governante poste, a normalização da estupidez só se expande.

          Não estou aqui julgando para saber se o livro é próprio ou não para a idade escolhida. Isso não compete a mim, mas aos professores de cada aluno. Ou seja, estou aqui me horrorizando que, em pleno século XXI, ainda haja pessoas que creem que devam censurar o que cada um deva ler. Tirando dos indivíduos o poder de escolha.

          Nos tempos da ditadura militar, eu e minhas amigas líamos, escondidas, os livros que os militares, que se julgavam mais espertos do que a maioria da população, proibiam. Isso quando conseguíamos algum exemplar, já que os tais livros não podiam ser vendidos em livraria. Imagino quantos militares ignorantes censuraram livros que eles jamais leram.

          Contraditoriamente, o livro O Avesso da Pele consta de leitura obrigatória do ITA, o que significa que pelo menos os militares da aeronáutica aprenderam e evoluíram.

          Os extremos, sejam de direita ou de esquerda, não convivem bem com a liberdade. Acreditam que somente eles sabem o que é melhor para um povo e assim, arbitrariamente, querem decidir sobre tudo. O filme O Último Tango em Paris foi proibido no Brasil pelos militares. Anos depois, quando a ditadura acabou, fui ao cinema achando que iria ver um escândalo. Não tinha escândalo nenhum. Mas, cenas de sexo para os puritanos hipócritas(porque normalmente são os mais libertinos), não deveriam ser vistas pela população. Por quê? Porque os estúpidos assim quiseram.

          Quem decidiu?  Quem deu a uma diretora de escola do Paraná o poder da censura? Se ela não foi capaz de argumentar com os seus docentes e chegarem a um consenso da utilização do livro, o que isso diz sobre ela? Também é uma pequena ditadora.

          Peço, encarecidamente, que pessoas de bom-senso não permitam que a censura volte ao país. O respeito à diversidade de opiniões e gostos é o que faz o mundo acolhedor para todos.

SP 19/03/24

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