Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
A CASA DOS ESPÍRITOS
Através do nosso canal Biblion de Prosa Literária, no youtube, entramos na obra da escritora chilena Isabel Allende por um livro não muito conhecido, mas realmente muito bom, que é Eva Luna. Depois, falamos de seu último livro Longa Pétala de Mar e agora vamos falar do seu primeiro livro e ainda hoje o mais famoso que é A Casa dos Espíritos, lançado em 1982.
E por que não começamos logo pelo mais famoso? Porque sempre acredito que é importante conhecer livros de momentos diferentes, se possível, separados por décadas, para ter uma visão um pouco mais abrangente da escrita e do estilo do autor. O que acontece é que a grande maioria das pessoas lê apenas o livro mais famoso de um escritor e se esquece que a sua escrita muda ao longo do tempo.
Se lemos apenas o livro mais famoso de um autor, com certeza não teremos condição de dizer como é a sua obra, já que, com raríssimas exceções, nenhuma obra é restrita a um único livro.
Então vamos à A Casa dos Espíritos. Mais uma vez, como em muitos livros da autora, a história se passa em um país da América do Sul que acreditamos seja o Chile, pois são muitas as referências que aparecem, ligando a história ao país de nascimento de Isabel Allende, mas sem afirmá-lo.
Conta a saga da família Trueba, por três gerações, e a própria Isabel Allende já declarou que se baseou na sua família para construir a narrativa que coloca em destaque os personagens femininos, a avó, a mãe e a neta. Explica Isabel Allende: "Quando eu era pequena, ouvia as histórias de minha mãe, de minhas tias, de minha vó, e as entesourava na memória. No exílio(depois do golpe de Pinochet, no Chile), tudo isso acabou. Por isso, eu quis escrever este romance".
Não é uma família comum. A avó, desde menina, conversa com os espíritos e mexe objetos com a força do pensamento. Esse elemento sobrenatural, juntamente com todas as dificuldades do dia a dia de um país sul-americano pobre, com grandes diferenças sociais, é que vai caracterizar A Casa dos Espíritos como realismo fantástico. Aqui temos de abrir um parêntesis, pois, muitos escritores, principalmente sul-americanos, se utilizaram do realismo fantástico devido a uma influência muito clara de Gabriel Garcia Marques, um dos grandes nomes do realismo fantástico. Justamente, em 1982, ele ganhava o Nobel de Literatura e já se utilizara do gênero com maestria em Cem Anos de Solidão. Gabriel era o grande nome na época e vai influenciar muitos escritores sul-americanos como Isabel Allende.
A avó vidente, Clara, a filha Bianca e a neta Alba vão estar sempre em situações de conflito ou de desacordo com o grande patriarca da família, o rico e poderoso Esteban Trueba, marido de Clara, pai de Bianca e avô de Alba. O que é muito interessante é que enquanto os personagens femininos vão se alterando a cada geração, porque com o tempo, os costumes e os valores de uma sociedade mudam, Esteban continua sendo autoritário, reacionário, incapaz de mudar e de se adaptar as necessidades de sua família, de seus empregados e de seu país. Já que, além de rico e poderoso, ele também era senador.
Como em quase todo livro de Isabel Allende, a repressão, o golpe militar de 1973 no Chile e a ditadura compõe também o pano de fundo dessa grande história.
Em 2007, durante um evento, Isabel disse:
“O que preciso para meus personagens em meus livros: um coração apaixonado. Eu preciso de não-conformistas, dissidentes, aventureiros, forasteiros e rebeldes, que questionem, subvertam as regras e assumam riscos.”
Creio que são esses personagens, amarrados em uma escrita que sabe muito bem como contar uma história que faz de Isabel Allende a escritora mais lida em língua espanhola em todo o mundo. E A Casa dos Espíritos fala justamente dessa grande luta das mulheres ao longo do século XX, mulheres que não se conformaram com a submissão. É um dos grandes clássicos da literatura e de imprescindível leitura.
Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=eLrXMpbscRs&t=2s
FICHA TÉCNICA
Título Original – La Casa de los Espíritus
Edição Original – 1982
Edição utilizada nessa resenha: 1986
Editora: Círculo do Livro
Páginas: 364