Miriam Bevilacqua

          Ah, as férias!

       Começa muito antes do que o dia marcado. É preciso comprar as coisas para levar na viagem, desde a roupa branca do réveillon até a salsinha do pernil. Passando claro pelo vinho, refrigerante, cerveja, champagne, e mais um monte de bebidas diferentes para todos os dias. Entra ano, sai ano e não entendo como que se bebe tanto em tão pouco tempo.

         Depois chega a hora do quebra-cabeça que é colocar no porta-malas toda a tralha praiana. Desde cadeira e guarda-sol, até baldinho para as crianças. É um tira e põe, vira daqui, espreme dali, até que, só Deus sabe como, um verdadeiro milagre acontece e cabe tudo. Claro que há zilhões de coisas também nos bancos e nos pés dos passageiros, mas quem liga? É férias!

          Enfim na estrada. Mas por que o carro não anda? Porque os milhões de paulistanos resolveram ir à praia junto com você. Os minutos passam, as horas passam. Já se cantou, contou piada, brincadeiras de adivinhação, e a impressão é de que o carro está cada vez menor e o destino cada vez mais longe.

          O primeiro dia na praia é inesquecível. Total animação e planos de nadar, brincar na areia, tomar sorvete, jogar frescobol. O dilema é encontrar um buraquinho um pouco maior na areia para fincar o guarda-sol. Antigamente, as pessoas eram elegantes e levavam apenas guarda-sol, hoje em dia levam uma barraca enorme que é, convenhamos, muito brega, além de tomar o lugar de vários guarda-sóis. Sem falar no som alto, completamente proibido, mas que eu nunca vi ninguém ser multado.

          Logo no primeiro dia, alguém já abusa do mar, ou do sol, ou da bebida, ou da comida. Férias é sinônimo de abuso até chegar às consequências inevitáveis. Mas o mal-estar passa, a queimadura de sol passa, enfim, tudo passa e a gula pela praia vai sendo saciada até que vira uma refeição normal e tudo ganha outra cor.

          As risadas perdem o tom exagerado e migram para aquele estado de alma em que tudo realmente é mais engraçado. As conversas ganham um ritmo ameno. O descanso vai sendo incorporado sem pressa. A música não grita, preenche a alma. O pôr do sol enche os olhos e os olhos dos amigos e da família nos encantam e que bom estarmos juntos e vivermos juntos esses dias de paz, diversão e esquecimento.

         E tudo, absolutamente tudo valeu a pena!

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São Sebastião/qualquer dia de verão