Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
AMARELOS
Não consigo me lembrar muito bem, em que momento da infância o amarelo se tornou a minha cor favorita, gosto que continua intacto até hoje. Penso, às vezes, que nem tenha sido eu a escolher o amarelo, mas a minha avó. Ela fazia vestidos coloridos para as quatro netas pequenas, e assim, cada uma tinha sua cor. Azul, verde, vermelho e amarelo. Não sei se fui eu que pedi a ela que o meu vestido fosse o amarelo, ou ela assim o determinou. Minha avó, apesar de querida, não deixava espaço para muitas escolhas infantis.
Desde então, tenho mais roupas, bolsas e acessórios amarelos do que a maioria das pessoas. Tenho até um terninho totalmente amarelo que pouquíssimas pessoas, eu sei, teriam coragem de usar. Visto e ainda dou risada dos olhares reticentes.
Não sei dizer exatamente a quê o amarelo me remete. Por favor, não digam ouro. Afinal, sou menos óbvia do que isso. Calor, luz, aconchego, não sei. Só sei que gosto de amarelo e ponto final.
Li, em algum lugar, que apenas 6% da população do planeta tem o amarelo como sua cor predileta. Não faz mal. Gosto bastante de ser diferente. E sei que talvez essa ojeriza à minha cor preferida tenha raízes históricas, já que as prostitutas no século XV eram obrigadas a usar amarelo para se diferenciarem das mulheres de “boa família.” Muito diferente das prostitutas francesas, no século XIX, que escolhiam o amarelo por livre escolha, simplesmente porque o amarelo é a cor que mais se destaca na escuridão da noite.
Além de cor de roupa de mulheres não muito respeitáveis, o amarelo também foi a cor escolhida pelos nazistas para obrigarem os judeus a utilizarem sua estrela de Davi, que normalmente é azul. Na Europa Medieval, os traidores tinham a porta de suas casas pintada de amarelo.
Quando alguém perde a coragem, costumamos dizer que o fulano “amarelou”. Ideia que trouxemos dos animais que quando estão com medo, mostram a barriga que costuma ser mais clara, em tons de amarelo. No Egito, o amarelo é a cor do luto.
Apesar de todas essas ligações não muito felizes com o meu querido amarelo, ela também é a cor da alegria, do pôr do sol, é a mais quente das cores porque remete à vida. Por isso que na China é considerada a cor imperial.
O amarelo chama atenção. Ninguém pode dizer ao contrário. E provoca em mim, uma satisfação que não sei explicar. Como diz a sabedoria popular: gosto não se discute. Então, se alguém for me mandar flores algum dia, por favor, que sejam amarelas!
São Paulo, 18/08/2020