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ANOS DE CHUMBO E OUTROS CONTOS

          O novo livro de Chico Buarque, lançado no final de 2021, é o seu oitavo livro, mas o primeiro de contos. É um volume pequeno composto de apenas 8 narrativas curtas. O meu exemplar da Companhia das Letras é capa dura com folha grossa, o que lhe dá certa envergadura, mas realmente é uma obra bem pequena. Claro que em literatura, se a obra for realmente muito boa, isso não faz qualquer diferença. Um bom exemplo é A Hora da Estrela de Clarice Lispector.

          Mas será que Anos de Chumbo e outros contos é uma obra realmente muito boa?

         Vamos começar pelo título já que anos de chumbo nos remete aos anos de ditadura no Brasil. Diferentemente do que a gente possa imaginar, os contos não vão falar diretamente da ditadura ou da repressão que acontecia naquela época, mas são histórias diversas que se passam naqueles anos.

            A coletânea de contos fala desde uma jovem que tem um amante, que é seu tio, irmão de sua mãe e que a família aceita e acha natural, o que deixa a gente meio atordoado, que é a trama do primeiro conto, chamado Meu Tio, até o último, justamente Anos de Chumbo. Esse sim, através da história de um menino, que teve poliomielite e gosta de brincar de soldadinhos de chumbo, filho de um militar torturador, Chico faz várias ligações com as ações dos militares, principalmente, em relação à tortura dos presos políticos, fato bastante comum na época da ditadura.

          Os contos passeiam lado a lado por Pablo Neruda, poeta chileno, ou por Clarice Lispector, como também por situações com uma mendiga de rua, invisível como quase todos aqueles que moram na rua. Gosto do livro não ser apenas uma reunião de contos esparsos e terem uma unidade e um contexto único que é a cidade do Rio de Janeiro e as mazelas do brasileiro. No geral, eu poderia dizer que são contos tristes ou pessimistas. Os finais são sempre desoladores como se a espécie humana, ou o brasileiro não tivesse muito por onde escapar.

          Um livro de contos, entretanto, na minha opinião, deve sempre fazer um bom equilíbrio entre suas histórias. Chico parece que, propositalmente, não optou por esse equilíbrio. Afinal, se os anos eram de chumbo havia muita tristeza e muito a se lamentar. O único conto que talvez tenha um pouco mais de leveza e nos permita um pequeno sorriso é o de nome O Passaporte que conta a história de um artista que esqueceu o passaporte no banheiro. Ao lê-lo, imaginei o personagem como sendo o próprio Chico.

         É um livro fácil de ler, mas devemos ficar atentos ao que apenas o escritor lança, mas não explica. O subentendido que talvez apenas pessoas que conheçam bem o contexto das décadas de 60, 70 e 80 no Brasil consigam perceber e entender.

          Costumo dizer que Chico é melhor letrista do que romancista ou agora, contista. Isso não quer dizer que o livro seja ruim, mas esse é o problema de se ter uma obra tão boa e tão relevante na Música Popular Brasileira.  A comparação é inevitável.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=CNWfb6eyh5g

               

FICHA TÉCNICA

Título Original – Anos de Chumbo e outros contos

Edição Original – 2021

Edição utilizada nessa resenha – 2021

Editora  Companhia das Letras - São Paulo

Número de páginas – 168

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