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        CAFEZINHO

          A hora do café no Brasil deve ter a mesma importância de que a hora do chá na Inglaterra. O bom é que enquanto nossos amigos ingleses têm o ritual apenas uma vez ao dia, o nosso se repete muitas e muitas vezes, ao longo do dia. Enquanto o deles pede xícara de porcelana, toalha esticadinha e dedinho empinado, o nosso ritual cabe até com copinho descartável e cotovelo no balcão.

         Minha mãe, mineiríssima, fazia café com coador de pano. Aquele que só é branco quando ainda não foi usado, mas que depois da primeira coada ganha um tom caramelo, que espanta quem não conhece. Para mal informados, pode parecer que precisa lavar, mas para mim, que fui criada com eles, sei que quanto mais velho e mais caramelo, melhor.

        O cheiro do café quando está sendo coado, ou “passado”, como diziam os antigos, também é uma delícia. Pena que as modernas máquinas de café expresso não reproduzam o mesmo odor com a mesma intensidade.

          - Chega aqui, comadre. Estou passando um café fresquinho.

        Perdi a conta de quantas vezes ouvi essa frase quando era criança. Tem frase mais inspiradora do que essa? Traz a intimidade, o afeto, o acolhimento de uma boa amizade regada a café. Se tiver uns biscoitos de polvilho, umas broas ou pães de queijo acompanhando, a felicidade é quase palpável.

         São coisas simples como a risada, o gosto da broinha, a conversa amena, reunidos na hora do café que fazem a cumplicidade do momento. A hora do café é a hora do encontro, seja de amigos, colegas ou parentes, a hora da pausa no trabalho, o momento leve e gostoso no meio da rotina.

        Adoro café, não apenas o seu gosto forte, seu cheiro característico, mas toda simbologia a que ele me remete. Muitas das minhas melhores lembranças foram acompanhadas de café,

         Não vejo a hora dessa pandemia passar, para ir a um café com pessoas queridas. Sonho com isso há meses. Vou beber todos os cafés acumulados em meses de isolamento. Vou colocar as conversas e os sorrisos em dia. Vou “cafeizar” por aí até a língua ficar marrom. E claro, vou ser feliz!

          Enquanto sonho, vai um café aí??

 

                                                           São Paulo, 06/10/2020.

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