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        DEUSES AMERICANOS

 

          Uma leitura que não pode faltar quando se pensa na obra de Neil Gaiman, é Deuses Americanos, seu quarto romance. Publicado em 2001, é uma tentativa do escritor inglês Gaiman entender os Estados Unidos, país onde fixou residência desde 1992. Ele próprio diz isso no prefácio do livro. Da mesma maneira que Shadow, o personagem protagonista do livro, Gaiman também fez longas viagens pelo interior norte-americano, descobrindo o país, e fez questão de só mencionar no romance, locais em que ele também estivesse estado.

     Seguramente, Deuses Americanos é seu romance mais premiado, mesmo que, estranhamente, tenha recebido prêmios por categorias completamente diversas como prêmio por ficção científica, horror ou fantasia, o que já demonstra uma clara dificuldade de em qual gênero encaixar a história.

           E do que se trata o livro?

      Quando os Estados Unidos foram colonizados, os europeus vieram para a América trazendo seus antigos deuses para a nova terra, capitaneados por Odin, que é considerado o deus mais importante da mitologia nórdica. Odin, o senhor de todos os deuses é, ao mesmo tempo, Deus da Guerra e também Deus da Poesia.  Entretanto, aos poucos, à medida que o modo de vida americano foi se estabelecendo, os antigos deuses foram sendo esquecidos e substituídos por novos deuses representados pela televisão, pelo rádio, pela internet, enfim, pela tecnologia. O que não deixa de ter aí um olhar crítico do Neil Gaiman ao famoso american way of life. Claro que há no romance uma forte crítica ao estilo de vida americano e à sociedade de consumo. E nada mais interessante do que colocar deuses, seres que devem ser adorados, para questionar o que os americanos adoram.

        Deuses Americanos aborda justamente o momento em que os deuses antigos e novos, transformados em pessoas aparentemente comuns, se enfrentam. A aventura é contada através de Shadow, como já foi dito, o personagem principal, que acaba de sair da prisão e perder a esposa. Sem saber ao certo que rumo tomar, Shadow concorda em ser motorista e guarda-costas de um velho estranho de nome Wednesday, na verdade, um dos velhos deuses, e assim Shadow é envolvido na guerra dos deuses. Aqui, cabe uma dica: Gaiman brinca com as palavras o tempo todo e vale a pena pesquisar (mas só depois que você terminar de ler o livro para não perder a surpresa), exatamente o que Wednesday significa.

       Quem conhece o mundo dos quadrinhos não pode deixar de fazer uma associação de Deuses Americanos com a famosa série de Jack Kirby chamada Os Novos Deuses, lançada em 1971. Aquela em que os velhos deuses haviam morrido e os novos deuses se dividem e brigam entre si. Não é a mesma história de Deuses Americanos, mas Gaiman, autor de quadrinhos, deve conhecer a história de Os Novos Deuses e, aparentemente, porque não podemos afirmar, teve aí sua inspiração para escrever seu livro.

         O fato da narrativa remeter à outra obra não diminui em nada o valor do livro. Como toda obra de Gaiman, é a originalidade da trama o que mais impressiona. Gaiman parece uma usina sem fim de idéias criativas. E, como em quase todos os seus livros, ele constrói a narrativa criando a expectativa de algo grandioso que nos aguarda, tanto a nós leitores, como também aos seus personagens. Essa estrutura cria um suspense que nos faz continuar a leitura.

Deuses Americanos é um romance de uma fase mais madura de Gaiman como romancista, já que não podemos esquecer que ele começa como autor de histórias em quadrinhos. Entretanto, às vezes, justamente talvez por uma necessidade de Gaiman de se mostrar mais denso, ele exagera no detalhamento tornando o romance, em muitas partes, de ritmo arrastado, detalhamento esse sem qualquer necessidade para a fluidez da história. Na minha opinião, o romance poderia ser mais enxuto.

        Disse anteriormente que é o livro mais premiado de Gaiman, e realmente é muito bom, mas não sei se Deuses Americanos é o melhor. Gosto muito mais de Lugar Nenhum, tão original quanto, mas de uma escrita muito mais ágil.

          Recomendo ler ambos e comparar.

Vídeo resenha: https://www.youtube.com/watch?v=YAJ1xqmgcrc

FICHA TÉCNICA

Título Original – American Gods

Edição Original – 2001

Edição utilizada nessa resenha – 2016

Editora Intrínseca – Rio de Janeiro

Número de páginas – 574 (Incluindo uma entrevista com o autor)

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