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FELIZ ANO VELHO

          No início da década de 80, foi publicado um livro que fez um enorme sucesso no Brasil porque inovava na forma de narrar e também no tema. Eu estou falando de Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva.

        Foi o primeiro livro do autor, sendo que antes dele, Marcelo nem pensava em ser escritor. A história real fala de quando o escritor, em 1979, tinha apenas 20 anos, estudava engenharia agrícola em Campinas, gostava de música e em um passeio com amigos mergulhou de uma pedra em um lago com a pose que o Tio Patinhas mergulhava em sua montanha de dinheiro, como ele próprio diz na primeira página do livro.

        Como o lago era raso, Marcelo Paiva bateu no fundo e ficou tetraplégico. O livro conta em detalhes desde o momento da queda do lago até o final do primeiro ano pós acidente, mostrando tudo que se passava em sua cabeça, as dúvidas se voltaria a andar de novo, as dores, os inúmeros tratamentos, o que ele pensava, sentia e como as pessoas em sua volta agiam.

        Com o tempo e muita fisioterapia, Marcelo conseguiu recuperar os movimentos dos braços e das mãos.

         Esse não foi o primeiro trauma da vida do escritor. Quando ele tinha apenas 11 anos, seu pai, o deputado Rubens Paiva foi cassado e teve de se exilar, mas em uma volta ao Brasil foi sequestrado e morto pelos militares, já que o Brasil na época vivia uma ditadura. E, como eu sempre, ditadura, seja de direita ou de esquerda, é o pior regime, pois os ditadores não permitem que ninguém pense diferente, e só de pensar, acham que já podem prender, torturar e matar. Os ditadores não seguem nenhuma lei e você pode reparar, sempre que um político quer ser um ditador, a primeira coisa que ele faz é atacar o judiciário e tentar desmoralizar as cortes supremas do país para que ele não sofra as penalidades da justiça. E, claro, atacar a imprensa para que ela não possa alertar a população do que realmente está acontecendo.

        Sempre em primeira pessoa, a narrativa é muito rica em relatar em detalhes uma situação que a gente nem consegue imaginar direito como seja. Somente quem passa por isso tem a clareza e a real dimensão do problema que vai alterar completamente a vida. Marcelo, que era muito jovem à época, imprime essa marca à narrativa, ou seja, ele usa uma linguagem praticamente coloquial, com muita gíria, termos e expressões próprias da sua idade e daquele momento. Além disso, na minha opinião, o que há de mais interessante é que o autor não se autocensurou falando de coisas que são muito comuns aos jovens como, por exemplo, sexo e a dificuldade e os medos de fazer sexo sendo tetraplégico.

        A história é ambientada, primeiro em Campinas e depois em São Paulo. Há um capítulo chamado inclusive Uma Paulista chamada Avenida que retrata bem a mais famosa avenida da cidade. E o romance retrata também com fidelidade o que pensavam os jovens da década de 80. Um aviso que eu sempre dou: não tente ler um texto de mais de 40 anos com as lentes de hoje em dia. Claro que há algumas passagens sexistas e que, atualmente, não seriam politicamente corretas, mas que eram absolutamente comuns naquela época. O importante antes de julgar qualquer romance, é entender o contexto em que foi escrito.

        Depois do acidente, o jovem muda completamente sua vida. Deixa a faculdade de engenharia e vai estudar rádio e TV e começa a escrever. Feliz Ano Velho tornou-se o livro mais vendido da década de 80 no Brasil e até hoje é bastante comemorado. Marcelo Rubens Paiva continua escrevendo. É dramaturgo, roteirista, colunista e lançou outros livros, mas nenhum com a mesma repercussão do seu romance de estreia. Entre 1991 e 1994 também apresentou o Programa de Entrevistas Fanzine na Tevê Cultura.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=PO8nae3FB1w

FICHA TÉCNICA

Título Original – Feliz Ano Velho

Edição Original – 1982

Edição utilizada nessa resenha: 1982

Editora - Círculo do Livro

Páginas: 260

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