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IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO

          Por que é importante ler Ideias Para Adiar o Fim do Mundo? Obviamente, pela ideias, mas, principalmente, por causa do seu autor. Ailton Krenak vem da aldeia dos Krenak que fica no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e essa autoria vem de encontro ao que sempre ressaltamos sobre o lugar de fala. Do mesmo jeito que Quarto de Despejo é uma leitura fundamental porque é uma moradora da favela, falando sobre a favela, nesse caso é um indígena falando sobre o problema dos indígenas. É a fala de dentro, de quem conhece profundamente, de quem vive os problemas.

          O livro é a adaptação de duas palestras e também uma entrevista. Ideias para adiar o Fim do Mundo foi, inclusive, o título de uma das palestras do Krenak.

         Antes de falar do livro, primeiro precisamos lembrar do ponto de partida. Espanhóis, portugueses e ingleses saíram pelo mundo colonizando terras que não eram suas. Eles chegavam, tomavam posse e destruíam os povos originários dessas terras, que eram seus legítimos donos, que sempre viveram nela.

          Na cabeça dos colonizadores, os indígenas não podiam ser considerados pessoas, afinal não sabiam ler, não sabiam falar a língua dos colonizadores e também, como não professavam a mesma religião, também não tinham alma. Vamos lembrar que durante muito tempo, a religião católica teve quase o mesmo poder do que a monarquia. Religião e monarquia governavam juntas. E as pessoas acreditavam em qualquer coisa que os religiosos diziam ou mandavam que fizessem.

          Essa visão completamente deturpada de que indígenas não tinham alma, não sabiam nada e deviam ser evangelizados durou séculos e o que mais impressiona é que, ainda hoje, em pleno século XXI, ainda escutamos, de vez em quando, esse tipo de bobagem. Ora, eles tinham outros saberes que não eram menos importantes do que os saberes dos colonizadores. Vamos trazer para os nossos dias. Precisamos compreender definitivamente que os saberes dos indígenas hoje não são menos importantes dos que os nossos, que somos descendentes dos europeus. São saberes diferentes, mas um não é mais relevante do que outro.

          Dito isso, o livro do Krenak vai mostrando que não é preciso uniformizar todos os seres humanos. Que não precisamos ser iguais e nem desejarmos as mesmas coisas. Para Krenak, os indígenas, os caiçaras, os quilombolas são vistos como uma sub-humanidade justamente porque não lhes interessa viver mal em favelas ou periferias dos grandes centros urbanos, e querem continuar morando nas suas terras, da maneira que eles desejarem se organizar enquanto coletividade. Uma tribo não precisa ser uma vila ou cidade porque é esse o modelo a que estamos acostumados. Compete a eles e somente a eles decidir como querem se organizar. Os indígenas, claramente, não querem fazer parte da sociedade de consumo que nos estimula a gastar mais e mais em coisas que nem precisamos.

          O livro também chama atenção para a deterioração do meio ambiente que é tão caro aos indígenas. O rio Doce, que os Krenak chamam de Watu, está completamente poluído por resíduos tóxicos da mineração que acaba com a terra, com a natureza, como se a companhia exploradora de minério fosse dona de tudo. Precisamos entender que mesmo a companhia sendo milionária e comprando terras, ninguém lhe autorizou a acabar com a natureza seja em suas terras, seja em outras terras que também vão sentir as consequências da poluição. Vamos lembrar que um rio passa por diversas localidades e que muitas pessoas dependem da água do rio.

          O nome Krenak é formado por duas partes: "Kre" que significa cabeça e "Nak" que significa terra. Eles então são conhecidos como a cabeça da terra e estão nos alertando para o grande perigo que correm, não apenas os indígenas em governos que acham que devem liberar a mineração em terras indígenas, mas todos nós. A exaustão da terra tem provocado mudanças climáticas que já estão causando inúmeras tragédias com mortes. O que vai acontecer se tudo isso continuar?

          O livro do Krenak é apenas uma sementinha de muita coisa que precisamos aprender. E, às vezes, é preciso desaprender o que sabíamos até agora porque estava errado e aprender o que é correto. Na década de 70, era comum as pessoas terem orgulho de uma estrada que rasgava a floresta, a Transamazônica. Naquela época, ninguém tinha consciência ambiental. Hoje sabemos do impacto na natureza que uma Transamazônica pode causar.

          Enfim, nós, brasileiros, temos uma grande responsabilidade de preservar esse ecossistema maravilhoso que é o nosso país, e também não apenas preservar, mas dar voz aos indígenas, os verdadeiros donos da terra.

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