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      NÃO ME ABANDONE JAMAIS

           

           

          Não me abandone jamais é uma das obras mais conhecidas do escritor japonês, Kazuo Ishiguro, prêmio Nobel de literatura de 2017. Ishiguro nasceu no Japão, mas quando tinha apenas seis anos, mudou-se com a sua família para a Inglaterra e, por isso mesmo, escreve em inglês. O livro foi transformado em filme em 2010, o que ajudou a popularizar a obra. Entretanto, não é uma leitura óbvia. É preciso estar atento às sutilezas.

            A história é contada pela personagem principal, em primeira pessoa, e, muitas vezes, ela se dirige diretamente ao leitor. Ela se chama Kathy H. e, logo no primeiro parágrafo, já informa ao leitor que tem trinta e um anos e é uma cuidadora. De quem ela cuida? De doadores. A partir daí a narrativa caminha alternadamente pelo presente de Kathy e pelo seu passado. A infância de Kathy foi passada em uma espécie de internato chamado Hailsham, e há uma tentativa da personagem em resgatar a memória, que é uma marca importante da obra de kazuo Ishiguro. Há um trecho, inclusive, em que a protagonista diz: “Tão logo eu possa levar uma vida mais calma, seja em que centro for que eles me ponham, terei Hailsham comigo, a salvo na minha cabeça, e isso é algo que ninguém jamais vai me tirar.” Em Hailsham, as crianças estudam e moram sem jamais irem para casa ou receberem a visita de um parente. Esse é o mistério do livro. Quem são aquelas crianças e jovens? O que fazem ali?

            Kathy conta também, no início do livro, que é uma ótima cuidadora e que está prestes a completar doze anos de profissão, bem perto do tempo máximo permitido a uma cuidadora, que é de 14 anos. Mas ela não esperará pela totalidade do prazo. Mais alguns meses e ela se tornará uma doadora, exatamente igual aos seus pacientes. Quem são os cuidadores e os doadores? Todos originados ou de Hailsham ou de escolas parecidas. Muitos são amigos ou conhecidos de Kathy, como Tommy por quem ela foi apaixonada desde a infância e por Ruth, sua melhor amiga, mas com quem também tinha muitas diferenças.

            Um detalhe que chama a atenção, é que tanto a protagonista Kathy como seus amigos de Hailsham ou são chamados apenas pelo nome, ou o sobrenome é identificado apenas com uma letra maiúscula. Um dado importante para quem não recebe a visita de parentes. Se não há um sobrenome identificável, a que família aquele indivíduo pertence?       

            Hailsham não é um lugar sombrio como a princípio poderia parecer. É um prédio grande com jardins bem cuidados onde crianças e jovens estudam, fazem esportes, trocam confidências, crescem seguros e, principalmente, se dedicam à arte. Fazer arte é muito importante para a Galeria da Madame, a diretora do orfanato que aparece de vez em quando e leva os trabalhos artísticos dos alunos. E muito importante para a história porque a grande pergunta é: o que é a arte? Quem é capaz de fazer arte? Talvez apenas o ser humano.

            A narrativa não tem grandes sobressaltos ou fatos espetaculares. É uma história que vai se mostrando aos poucos, criando uma expectativa para a solução do mistério, mas que no fundo, todo leitor já suspeita. Por mais que esperemos por mais ação, isso não acontece porque não é importante. É só o pano de fundo.

            Aparentemente, Não Me Abandone Jamais é um livro de ficção científica, mas é muito mais do que isso. Ishiguro usa a trama para falar com sensibilidade da natureza humana e discutir temas como amizade, solidão, amor, propósito de vida, memória e, principalmente, finitude.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=nml76jJL8ew

FICHA TÉCNICA

Título: Não Me Abandone Jamais

Título original: Never Let Me Go

Edição utilizada nessa resenha: 2016
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 344

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