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O APANHADOR NO
CAMPO DE CENTEIO

          O Apanhador no Campo de Centeio do escritor americano Jerome David Salinger ou apenas J.D. Salinger, como ele assina seus livros, é um livro muito famoso, que fez muito sucesso na década de 40 quando foi lançado em pedaços no jornal e também na década de 50, quando aparece em volume. E hoje ainda figura em muitas listas dos melhores livros de todos os tempos. 

         Contextualizando, lembramos que após as duas grandes guerras há um movimento diferente da literatura em alguns lugares do mundo. Aqui no site há várias resenhas sobre obras da chamada geração perdida de escritores americanos que participaram da primeira guerra e depois foram morar em Paris, como Hamingway ou Fitzgerald. Mas também, após a segunda guerra, é possível perceber esse mesmo movimento de desencanto.

         Salinger serviu na segunda guerra e, estranhamente, após o sucesso de O Apanhador no Campo de Centeio ele se torna recluso, escrevendo algumas outras obras que não obtém o mesmo sucesso. O escritor faleceu em 2010.

          A história mostra um final de semana na vida do personagem principal, chamado Holden Caulfield, que tem apenas 17 anos. Entretanto, Salinger não escreveu essa história para adolescentes e sim para adultos, mas, surpreendentemente, acabou fazendo mais sucesso entre adolescentes que são capazes de se enxergar ou enxergar vivências através do personagem Holden.

          O livro começa com Holden nos contando que ele está em uma clínica se recuperando de um esgotamento que havia tido no último Natal. E diz que não vai fazer uma história a "la David Copperfield", uma referência à obra de Dickens que também tem resenha aqui no site. Ou seja, ele não vai contar a história de sua vida toda, como acontece em David Copperfield, porque diz que seus pais eram sensíveis e não iriam gostar se ele falasse algo mais íntimo sobre eles. Dessa forma, ele opta apenas por relatar o acontecimento que ele chama de doido e que provocou seu esgotamento nervoso.

          Logo nesse início, ele também nos conta que tem um irmão escritor, o D.B., que Holden diz que escreveu um livro fabuloso, mas que agora está em Hollywood se prostituindo e com essa fala, claro, o autor critica explicitamente vários escritores que escrevem roteiros para filmes, como se isso fosse menor, um preconceito que ainda hoje é possível observarmos em alguns meios.

          Holden então nos conta que ele estudava no Internato Pencey, um colégio que ele não gostava, que ele considerava “horrível, sob todos os pontos de vista.” E, no sábado, quando a história começa, ele está assistindo a um jogo, isolado de todos, e o leitor já percebe que ele não está bem. Primeiro, porque ele havia ido com a equipe de esgrima a Manhattan participar de um torneio e havia esquecido o equipamento de toda a equipe dentro do metrô, mas, principalmente, porque havia sido expulso do colégio. O protagonista havia sido reprovado em quatro disciplinas e por isso não poderia estudar no Internato Pencey no próximo ano. Holden já tinha sido expulso de outros dois colégios antes e estava apreensivo como seus pais iriam responder a mais uma expulsão.

          Logo em seguida, ele vai visitar seu professor de história, um velho professor que está doente. A meu ver, esse capítulo é bastante simbólico, porque Holden está buscando algum tipo de aceitação, algum tipo de vínculo, mas ele não obtém sucesso porque está totalmente refratário a tudo que o professor lhe aconselha. Ele sabe que o professor está tentando ajudá-lo, mas, mesmo assim, não está aberto a conselhos e a visita o deixa ainda mais triste.

          Depois disso, ele volta para o seu dormitório no colégio. Seu colega de quarto, chamado Stradlater, conta que vai sair com uma amiga de infância de Holden e ele não gosta de saber disso. Stradlater também pede a Holden que faça uma redação para ele, na verdade, uma descrição de um cenário. Holden até tenta, mas acaba descrevendo a luva de beisebol do seu irmão Allie, que havia falecido de leucemia. O protagonista diz que seu irmão era uma pessoa muito boa e que quando ele morreu, ficou com tanta raiva que quebrou todos os vidros da garagem com a mão e tentou até quebrar os vidros da caminhonete, mas sua mão já estava quebrada e ensanguentada.

          Quando Stradlater volta do seu encontro, fica bravo com a descrição que Holden havia feito, já que não era de um cenário como havia sido solicitado. Os dois acabam brigando e Stradlater que era muito mais forte, ganhando a briga. Com isso, Holden chateado resolve que não vai esperar até quarta-feira, dia do fim do período letivo, para voltar para Manhattan onde mora com os pais e a irmã caçula. Resolve ir embora naquela noite mesmo, mas ficar em um hotel, sem contar aos pais, pois para ir para a casa dos pais antes das férias, precisaria contar que havia repetido de ano, o que ele não queria fazer. Provavelmente, na quarta-feira, quando seus pais o estariam esperando, o diretor da escola já tivesse contado.

          E assim, ele vai para Manhattan e se hospede em um pequeno hotel porque não tem muito dinheiro. Começa então o final de semana em que a história se desenvolve e no qual, acontecem fatos muito estranhos, envolvendo Holden.

          Como eu já disse antes, apesar de ter sido um livro escrito para adultos, o fato de ter um adolescente como personagem principal fez com que muitos adolescentes se identificassem com o protagonista. O personagem Holden é um adolescente que está perdido, que claramente está sofrendo e pedindo ajuda, e que Salinger consegue descrever muito bem. Em algumas passagens, chegamos a ficar com raiva do personagem, de como ele pode fazer tanta bobagem, mas então nos lembramos de que na adolescência é comum mesmo os jovens experimentarem alguns comportamentos estranhos, quanto mais um adolescente que está tão desorientado quanto Holden.

          Infelizmente, de alguma forma, esse livro com todo o seu desencanto parece ter influenciado mal alguns jovens. O assassino do beatle John Lennon e também o criminoso que tentou matar o presidente Reagan afirmaram ter tirado desse livro a ideia de atacar suas vítimas.  Mas, de forma alguma, o livro faz qualquer apologia a assassinatos.

          A minha única crítica ao O Apanhador no Campo de Centeio é que em alguns momentos ele se tornou um livro datado, ou seja, que faz muito mais sentido para uma geração pós-guerra desencantada do que para o presente. Não consegue a imortalidade que a gente encontra nos principais clássicos.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=sWrg1KZVhrk

FICHA TÉCNICA

Título Original – The Catcher in the Rye

Edição Original – 1951

Edição utilizada nessa resenha: 1999

Editora - Editora do Autor

Páginas: 207

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