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        O ESPELHO

          O conto O Espelho de Machado de Assis foi lançado no Jornal carioca Gazeta de Notícias em 1882 e, só mais tarde, reunido em um volume de contos sob a denominação de Papeis Avulsos.

          Conta a história de cinco amigos que costumam se reunir para debater toda a sorte de assuntos. Mas, apenas quatro debatem, pois, um dos amigos, chamado Jacobina, se recusa a participar e fica apenas ouvindo. Na apresentação do ambiente e do grupo de amigos, Machado desenha a cena como difusa, em que não há contornos bem definidos, o que abre possibilidades para tudo acontecer.

           Em um desses encontros, Jacobina é desafiado pelos amigos a falar, a trazer alguma coisa importante para a discussão, então ele vai contar uma história que lhe havia acontecido quando ainda era jovem, mas sob a condição de não ser interrompido.

          A história aborda a sua teoria de que temos todos duas almas. A alma exterior que enxerga a interior e a alma interior que enxerga a exterior. Então ele conta que havia sido nomeado alferes, o que era uma patente de oficial que hoje em dia foi substituída pela de segundo tenente. A nomeação havia sido um motivo de grande alegria para sua família que era muito humilde. Jacobina começou a receber elogios e mais elogios de todos e sua tia Marcolina, que morava afastado, em uma chácara, pediu para que ele fosse visitá-la e levasse a farda.

           Devidamente fardado, a tia, ao vê-lo, também encheu-se de orgulho a ponto de querer que um belo espelho que ela tinha na sala fosse levado ao quarto onde ele ficaria hospedado como uma maneira de agradar o sobrinho e reverenciar o jovem oficial da família.

          Por mais que Jacobina achasse que não havia necessidade, a tia fez questão. E novamente todos na chácara não lhe pouparam elogios, o que ia lhe deixando cada vez mais vaidoso de si. Até Jacobina reconhecia que, aos poucos, a personalidade do alferes ia se sobrepondo à sua própria personalidade.

         Logo depois, uma filha dessa tia ficou doente e ela teve que viajar, deixando o sobrinho cuidando da propriedade e dos escravos. Aproveitando a oportunidade, os escravos, dias depois, fugiram, deixando Jacobina completamente só.

          Sozinho, os elogios cessaram e a chácara se tornou silenciosa, onde se ouvia apenas o tic-tac do relógio. Um dia, estranhamente, Jacobina olhando-se no espelho viu apenas um vulto difuso, sem contorno definido, e ficou tão abalado, a ponto de achar que estava ficando louco. Não conseguindo enxergar a si mesmo, Jacobina resolve colocar a farda e então percebe que a sua imagem com farda, o espelho refletia perfeitamente.

          Ele percebeu também que a sua integridade como pessoa só era alcançada quando era a imagem que os outros projetavam e não a sua própria imagem. A teoria de Jacobina era de que todos nós temos duas almas: uma que enxerga de dentro para fora e outra que vem de fora para dentro. Daí ele concluía que uma das almas estava justamente em sua farda, ou na maneira como os outros o enxergavam.

          Quando Jacobina acaba de contar a história, ele vai embora, não dando tempo sequer dos amigos comentarem algo ou lhe fazerem perguntas.

         O conto O Espelho é uma crítica de Machado ao valor que damos à opinião alheia e de como só nos sentimos bem quando temos a aceitação e a aprovação das pessoas. É uma história atemporal, pois, mais de cem anos depois de escrita, ainda somos pautados pelo o que os outros enxergam em nós.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=oOMK1loOuRg&t=62s

FICHA TÉCNICA

Título Original – O Espelho (in Papeis Avulsos)

Edição Original – 1882

Edição utilizada nessa resenha – 1950 – Machado de Assis Obras Completas v. 14

Jackson Editores – Rio de Janeiro

Número de páginas – 15

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